O consumo de álcool está associado ao risco de desenvolvimento de problemas de saúde, como distúrbios mentais e comportamentais, incluindo dependência, e doenças graves, como cirrose hepática, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares. Mas o que poucos sabem é que o álcool também pode causar sérios problemas de saúde bucal.
A World Dental Federation (FDI), entidade global de atenção à odontologia, define saúde bucal como vital para a saúde e bem-estar. Mas, pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 11% da população nunca foi ao dentista. Entre os brasileiros, oito milhões já usam prótese e três em cada quatro idosos não possuem nenhum dente.
O que poucos sabem é que o consumo de álcool é um dos grandes vilões quando o assunto é saúde bucal. É o que explica o Supervisor Técnico da Clínica Omint Odonto e Estética, Milton Maluly Filho. “O consumo de álcool possui uma influência significativa no desenvolvimento de patologias, pois o álcool altera o pH bucal, propiciando um ambiente favorável à cárie dentária, à periodontite, à erosão ácida e à halitose”, diz.
Segundo o supervisor, a cárie ocorre pela dissolução dos tecidos dentários, resultando na formação de ácidos que provocam a redução do pH salivar. “A saliva atua no tamponamento dessas variações de pH e na remineralização dos tecidos dentários, e como o indivíduo alcoolista pode apresentar uma redução no fluxo salivar, por consequência a predisposição para a doença aumenta”, comenta.
A periodontite, doença inflamatória dos tecidos de sustentação dos dentes, é um dos efeitos negativos do álcool, principalmente se houver falta de cuidado com a higiene oral. Outro efeito do alcoolismo na saúde bucal é a erosão ácida, que nada mais é que a perda do esmalte e da dentina dentária, causada pelo vômito e pela diminuição do fluxo salivar. A boca se desidrata com o consumo de bebidas alcóolicas, tornando-se mais fragilizada sem o efeito protetor da saliva.
“Podemos citar ainda a halitose, uma condição na qual o hálito sofre uma alteração desagradável, podendo ou não significar uma condição patológica. A sua principal causa é a decomposição da matéria orgânica, provocada por bactérias da cavidade oral. A diminuição do fluxo salivar resulta na libertação desses compostos, que são produtos da degradação de aminoácidos e uma das principais causas do mau odor bucal”, explica Milton.
Câncer de boca
O câncer de boca é responsável pela morte de, cerca de, 15 mil pessoas todos os anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A doença afeta lábios, gengivas, bochechas, céu da boca, língua e a região embaixo da língua. Esse é o quarto tumor mais frequente entre os homens na região Sudeste.
De acordo com Milton, o fator álcool é um grande aliado para a origem do câncer de boca. “A necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica potencializa o risco de surgimento da enfermidade e, em determinada concentração, pode alterar a mucosa oral, fazendo com que fique mais suscetível a carcinógenos. O etilismo fragiliza a imunidade e causa a proliferação de células epiteliais, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da doença”, diz.
O câncer de boca possui diversos fatores etiológicos, porém, estudos evidenciam que o etilismo e o tabagismo são os principais responsáveis por esse crescimento desordenado das células. “Assim, com a modificação da permeabilidade da mucosa oral causada pelo álcool, a penetração de substâncias carcinogênicas presentes no fumo é facilitada, aumentando a suscetibilidade de câncer”, comenta Milton.
Prevenção e tratamento
Assim como diversas doenças, as orais podem ser prevenidas e tratadas na maioria dos casos. “A visita periódica ao dentista precisa ser levada a sério, assim como fazemos em relação às consultas médicas e cuidados da saúde em geral”, explica o supervisor técnico da Clínica Omint.
Para acompanhamento de rotina, limpeza e avaliação, o correto é ir ao dentista a cada seis meses ou sempre que surgirem dúvidas ou desconfortos bucais. “Dores, sangramentos e inchaços na boca não são normais e não podem ser relevados. Nesses casos, a procura por um profissional deve ser imediata”, finaliza Milton.