O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira, 25, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) Teletrabalho e trabalho por meio de plataformas digitais 2022. De acordo com os dados, no Tocantins, cerca de 4 mil pessoas exerciam suas atividades laborais por meio de plataformas digitais de serviços. Esse número representava 0,7% da população ocupada no setor privado. Já em relação ao teletrabalho, 26 mil tocantinenses estavam nessa modalidade, ou seja, 3,5%.
Considerando o cenário em que o mercado de trabalho foi afetado pela pandemia de Covid-19, a PNAD Contínua levantou, pela primeira vez, informações para melhor compreender os fenômenos do trabalho plataformizado e do teletrabalho. A pesquisa foi realizada pelo IBGE, por meio de Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), no quarto trimestre do ano passado, e faz parte das estatísticas experimentais, isto é, estão em fase de teste e sob avaliação.
No Tocantins, a população ocupada de 14 anos ou mais de idade, sem contar com os empregados no setor público e militares, foi estimada em 580 mil pessoas, das quais cerca de 8 mil (1,4%) realizavam trabalho por meio de plataformas digitais de serviços ou obtinham clientes e efetuavam vendas por meio de plataformas de comércio eletrônico no trabalho principal. Desse total, 4 mil pessoas (0,7%) trabalhavam por meio de aplicativos de serviços, e 4 mil utilizavam plataformas de comércio.
No quarto trimestre de 2022, o rendimento médio recebido pelo tocantinense no trabalho principal (calculado para as pessoas de 14 anos ou mais de idade ocupadas na semana de referência, exclusive os empregados no setor público e militares) foi estimado em R$ 2.113. Entre os plataformizados, esse valor alcançava R$ 3.741, estimativa 78% superior à do rendimento médio dos não plataformizados (R$ 2.100).
“Ao comparar os rendimentos de ocupados plataformizados e não plataformizados, é importante considerar que existem diferenças quanto ao nível de instrução e ao perfil ocupacional, havendo, por exemplo, maior participação de pessoas com menor nível de escolaridade e exercendo ocupações elementares entre os não plataformizados”, explica Gustavo Geaquinto, analista da pesquisa.
Ao analisar a jornada de trabalho, verifica-se que, no Tocantins, os trabalhadores plataformizados trabalhavam habitualmente, em média, 41,4 horas por semana no trabalho principal, sendo essa jornada 3,1 horas mais extensa que a dos demais ocupados (38,3 horas). Dessa forma, as diferenças nas horas habitualmente trabalhadas, entre plataformizados e não plataformizados, também poderia contribuir para os diferenciais de rendimento entre esses dois grupos.
Teletrabalho e trabalho remoto
Em 2022, haviam 26 mil pessoas em teletrabalho no Tocantins, de forma habitual ou ocasional. Isso representa 3,5% do total de ocupados que não estavam afastados do trabalho (741 mil). De acordo com uma classificação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) utilizada pela pesquisa, o teletrabalho é um tipo de trabalho remoto. Nessa modalidade, o trabalho é realizado em um local alternativo, que pode ser o próprio domicílio ou outro local, com a utilização de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação (TIC), como computadores, telefones e tablets.
“Para ser considerado trabalho remoto, é preciso que o trabalho seja realizado em ambiente alternativo ao local padrão de trabalho, ou seja, em local diferente daquele em que tipicamente se esperaria que fosse executado, considerando tanto a ocupação exercida pela pessoa quanto a sua posição na ocupação. Vamos supor que uma pessoa trabalhe por conta própria, em sua casa, na produção de pães e bolos para vender. Como o próprio domicílio é o lugar de funcionamento de seu negócio, para essa pessoa, trabalhar no domicílio não é considerado trabalho remoto. Já o teletrabalho é uma subcategoria do trabalho remoto, ocorrendo quando se utilizam equipamentos TIC para realizar as tarefas do trabalho”, esclarece o analista.
A publicação estimou em 39 mil o número de tocantinenses que exerceram trabalho remoto no período de referência, o que representava 5,2% do total de ocupados que não estavam afastados do trabalho. A partir desses dados é possível observar que, em 2022, haviam 13 mil pessoas que estavam em trabalho remoto, mas não estavam em teletrabalho, pois não usavam equipamentos de TIC para realizar as tarefas laborais.
O rendimento médio da população ocupada no estado foi de R$2.422, no ano passado, mas entre aqueles que realizaram pelo menos um dia de teletrabalho no período de referência, o rendimento era 2,2 vezes maior do que essa média: R$5.406. Já entre os que não trabalharam desse modo, o rendimento era abaixo da média: R$2.313.
O analista da pesquisa ressalta que essa diferença não nasce necessariamente do uso do teletrabalho. “É uma correlação com o tipo de ocupação que favorece essa modalidade de trabalho, que tende a pagar salários mais altos. É o caso, por exemplo, daquelas ocupações com maiores proporções de trabalhadores realizando o teletrabalho, como os gerentes e profissionais das ciências e intelectuais”.
A pesquisa também investigou o tema em relação às horas trabalhadas. Nesse indicador, houve pouca diferença entre os que realizaram o teletrabalho e aqueles que não trabalharam nessa modalidade. A média de horas de trabalho por semana foi levemente menor entre os teletrabalhadores: 37,5 horas contra 38,2 de quem não trabalhou dessa forma. A média de horas trabalhadas do total de ocupados do Tocantins também foi de 38,2.
Cenário nacional
No Brasil, a população ocupada do setor privado foi estimada em 87,2 milhões de pessoas, das quais 2,1 milhões realizavam trabalho por meio de plataformas digitais. Desse total, 1.490 mil pessoas trabalhavam por meio de aplicativos de serviços, e 628 mil utilizavam plataformas de comércio.
Conforme o levantamento, 52,2% (ou 778 mil) exerciam o trabalho principal por meio de aplicativos de transporte de passageiros, em ao menos um dos dois tipos listados (de táxi ou não). Já 39,5% (ou 589 mil) eram trabalhadores de aplicativos de entrega de comida, produtos etc., enquanto os trabalhadores de aplicativos de prestação de serviços somavam 13,2% (197 mil).
O menor percentual de pessoas que trabalhavam por meio de plataformas digitais de serviços no Brasil foi verificado no Tocantins (0,7%), seguido pelo Maranhão (0,8%) e Acre (0,9%). Rio de Janeiro (3,3%), Distrito Federal (2,3%) e Alagoas (2,3%) registraram os maiores percentuais.
Em 2022, haviam 7,4 milhões de pessoas em teletrabalho no país. Isso representa 7,7% do total de ocupados que não estavam afastados do trabalho (96,7 milhões). A publicação estimou em 9,5 milhões o número de pessoas que exerceram trabalho remoto no período de referência, ou seja, 9,8%.
O Tocantins foi o terceiro estado com menor proporção de teletrabalhadores no país (3,5%). Roraima (3,2%) e Amapá (3,4%) ocuparam as primeiras posições. Na outra ponta, Distrito Federal (16,7%), São Paulo (11,6%) e Rio de Janeiro (10,2%) registraram os maiores percentuais de ocupados na modalidade teletrabalho.