Montagem Gazeta do Cerrado

Reportagem Especial Lucas Eurilio

ALERTA GATILHO!

O Tocantins vive uma enorme onda de violência – grave – contra as mulheres.  Um breve levantamento feito por nossa equipe, mostra que do 1º até o dia 11/01 foram registrados pelo menos dois feminicídios e duas tentativas de feminicídios no Estado.

As violências seguem aumentando por todas as regiões e os maiores vilões são o ciúmes, a possessividade – posse, achar que é dono –  os relacionamentos abusivos, os estupros, MORTES e todos eles encabeçados pelo MACHISMO e MISOGINIA!

Todos os casos tiveram um triste desfecho, e dois deles ganharam grande repercussão na última semana, onde Ana Paula Cerqueira Moreira, de 51 anos foi morta pelo marido a tiros após uma discussão em Palmas e Irene Almeida Chaves que terá que conviver com o trauma de quase ter sido assassinada – agredida por anos –  em uma lavoura de soja pelo então companheiro, Jonas Bukoski em Araguacema, oeste do TO.

Caso Ana Paula

Wilson da Silva Rocha assassinou a esposa a tiros – Foto – Arquivo Pessoal

O caso de Ana Paula causou revolta e chocou a população palmanse na noite de sexta-feira 15, quando, depois de uma briga, o Sargento da PM Wilson da Silva Rocha, de 43 anos, atirou contra a esposa.

Segundo informações, o casal estaria passando por problemas no casamento.

No dia do crime, a Polícia Militar (PM) disse que testemunhas ouviram a discussão e em seguida alguns  disparados.

Ao chegar no local, os militares encontraram Ana Paula e Wilson sem os sinais vitais. O PM atentou contra a vida.

O crime e o atentado contra a vida aconteceram na Arso 121, antiga 1206 Sul.

Um inquérito foi aberto para investigar o caso. 

PM alvo de Críticas

A Polícia Militar do Tocantins tem sido alvo de críticas na internet por conta da forma que se posicionou em relação ao crime.

Em uma nota encaminhado à imprensa, a PM diz que lamentou o que chamou de perda inestimável para a instituição  a morte do Sargento, mas não menciona a vítima de feminicídio.

Em seu perfil no Instagram, a advogada e feminista Emilleny Lázaro questionou “quem lamenta o feminicídio íntimo de uma mulher?”

Nossa equipe entrevistou a Drª Emilleny  que é especialista em Direito da Mulher, onde abordamos a falta de políticas públicas e o porquê do aumento de casos de feminicídio e violência contra a mulher. (Veja na íntegra no final da matéria)

O apelo de Irene em Araguacema

Irene Almeida Chaves, vítima de tentativa de feminicídio em Araguacema – Reprodução

Já nos primeiros dias de 2021, Irene Almeida Chaves, de 39 anos, moradora de Araguacema, oeste tocantinense, viveu momentos de terror ao correr para conseguir sobreviver ao ataque e tentativa de feminicídio, do então marido Jonas Bukoski, 39 anos.

Um choro por que não sabia quando ia poder ver as filhas… Isso foi o necessário para que Jonas colocasse Irene dentro de uma caminhonete, e após ‘rodarem’ em uma lavoura de soja, a vítima foi obrigada a descer do carro e ficar de joelhos.

Dois disparos de uma espingarda falharam, o terceiro tiro, feriu a cabeça da mulher que precisou ser levada para uma unidade hospitalar.

Depois de uma mobilização nas redes sociais e uma manifestação, a Polícia Civil prendeu o agressor Jonas Bukoski.

Mobilização social

Os crimes contra as mulheres tem repercutido – negativamente-  entre instituições e políticos do Estado.

A presidente do PL Mulher no Tocantins e ex-prefeita de Palmas, Nilmar Ruiz disse estar indignada com a violência sofrida por Irene, em Araguacema.

Trecho da nota  encaminhado ao site diz ainda que este momento é um grito de socorro. O PL Mulher lamentou e ressaltou que o sofrimento de Irene não aconteça com outras mulheres (Veja mais abaixo na íntegra).

Em Palmas, a presidente da Câmara de Vereadores, Janad Valcari disse através do perfil da Casa no Instagram que uma audiência pública será realizada para tratar em caráter de urgência o feminicídio de Ana Paula.

A data da audiência ainda não foi divulgada.

Nota PL Mulher no Tocantins

O PL Mulher no Tocantins, externa profunda indignação os atos de violência sofridos por Irene Chaves em Araguacema e se incorpora ao movimento #TodosComIrene. O pedido de justiça e pela não violência contra a mulher, deve ecoar em todas as instituições, começando pelas famílias e em todas as instâncias, para que possamos freiar o grande aumento de casos de violência contra a mulher no nosso Estado e no Brasil.

A pandemia sanitária que estamos passando, agravou ainda mais a situação que já vivíamos e que há anos tentamos combater.

Sabemos da necessidade das transformações culturais, legais e institucionais. Da importância das mudanças de paradigmas para que as mulheres se valorizem e se apoderem cada vez mais, para que sejam apoiadas e respeitadas e para que exijam seus direitos e tenham justiça.

Porém, nesse momento, o grito é de socorro! Que o sofrimento da Irene venha sensibilizar à todos! Que cada um faça a sua parte, para que não haja tantas Irenes, na maioria anônimas, a cada minuto sendo violentadas e muitas sendo mortas!

Nilmar Ruiz
Presidente do PL Mulher Tocantins

Violência contra a mulher no Tocantins

Divulgação PM-TO

Em um balanço dilvulgado no dia 23/12 pela Polícia Militar sobre as ações da Instituição em 2020, o crime de feminicídio não é mencionado nos dados.  Apesar disso, a própria PM registrou a morte de Maria Madalena Pinheiro Alves, de 53 anos, em Abreulândia, região central do Estado.

Ela foi morta em 22/09/2020 pelo ex-marido que confessou que comprou uma arma no valor de R$ 3 mil antes de cometer o feminicídio.

Já em outro balanço, mas do dia 15/09/2020, a PM apontou um aumento de 7% no registro de chamadas através dos canais de emergência de violência contra a mulher.

O aumento foi comparado entre julho quando o estado registrou 178 e agosto com 192 chamadas de pedido de socorro.

Nossa equipe entrou em contato com a PM solicitando dados sobre os casos de violência registrados contra pessoas do gênero feminino em todo o ano de 2020 e aguardamos a resposta da solicitação.

Machismo latente na sociedade

Advogada e feminista, Emilleny Lázaro – Reprodução Instagram

Em entrevista ao Gazeta do Cerrado a advogada e feminista Emilleny Lázaro, a militante falou sobre os tipos de violência que existem contra as mulheres, como combater o feminicídio e porque homens continuam a cometer feminicídio. Veja abaixo entrevista exclusiva Gazeta do Cerrado:

 

Quais os tipos de violência é violência contra a mulher?

A Lei Maria da Penha aponta 5 formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: psicológica, sexual, física, moral e patrimonial. Esse rol tem um ‘lugar’ específico que é o “doméstico e familiar”; fora de casa também podemos encontrar outras formas de violência de gênero, como a violência institucional, a obstétrica e a simbólica, por exemplo.

Como combater o feminicídio?

Não existe solução simples para um problema complexo, por isso é bom desconfiar de populismo legislativo ou de soluções prontas. Por mais importantes que sejam a Lei Maria da Penha ou a Lei do Feminicídio, não há leis salvadoras. Na minha percepção o combate ao feminicídio exige um conjunto integrado de políticas, programas e ações públicas que necessitam enfocar, por exemplo, o reconhecimento da gravidade das violências cotidianas e as raízes socioculturais desse tipo de violação.

Vou dar um exemplo: quando uma mulher tem queixas de abusos psicológicos do companheiro/cônjuge/namorado/pai a reação mais comum é nos perguntarmos onde a mulher está errando e não o porquê aquele homem se sente autorizado a controlar as roupas que ela usa ou a diminuir sua autoestima, por exemplo. Esse tipo de reação contribui para a continuidade da violência que pode ir se intensificando até o extremo do feminicídio, ao mesmo tempo em que funciona como um obstáculo para que muitas mulheres não busquem ajuda para sair da situação de violência e, ainda, para que, quando buscarem, não sejam devidamente acolhidas.

Para evitar o feminicídio precisamos enxergar e combater as pequenas violências, sem tréguas, todos os dias e em todos os ambientes.

Porque os homens continuam matando as mulheres?

Porque perder o poder sobre o corpo e a vida de uma mulher é algo inadmissível para um homem, mexe com a própria ideia de masculinidade. Não à toa se tornou comum ouvir no final de um relacionamento que “se não for minha não será de ninguém”.

Qualquer pessoa pode denunciar violência doméstica?

Qualquer pessoa pode e deve denunciar uma situação de violência doméstica, basta ligar no 190 se tiver ocorrendo naquele momento, ou no 180 se for algo que pode aguardar uma intervenção. É importante também estar pronto para acolher a mulher, se possível ouvi-la, e procurar saber qual a melhor forma de ajudar.

O machismo e o patriarcado continuam sendo os principais causadores de mortes cruéis de mulheres? Como mudar esse cenário?

A necessidade masculina de dominar os nossos corpos é a materialização do machismo e tem raízes no patriarcado, este sistema que nos organiza enquanto sociedade e coloca a figura do homem heterossexual e branco como o referencial de humanidade. Tudo o que se distancia deste ideal é menos humano e, portanto, pode ser objeto de dominação e violência.

Quando uma mulher é vítima de feminicídio toda a sociedade falhou miseravelmente. Do luto precisa emergir a luta: ninguém pode se esquivar. As Instituições precisam pautar para dentro e para fora o assunto, a fim de prevenir novos casos, a mídia precisa dar nomes aos bois e não reproduzir estereótipos que justificam o feminicídio, a sociedade precisa rever onde tem sido conveniente, eu e você precisamos falar com as nossas e os nossos. Às mulheres que foram mortas dentro de casa devemos o tributo da luta, nenhum minuto de silêncio enquanto nossos corpos forem alvo.

Jornalismo de causa

A Gazeta do Cerrado enquanto veículo de comunicação reafirma o compromisso com a cobertura e cobrança diária sobre os casos de feminicídio no Tocantins. Está pauta faz parte de um compromisso editorial do veículo contra o feminicídio.

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