Carregando o filho de apenas 2 anos, o venezuelano Gregório Rodriguez, de 33 anos, se arriscou na manhã desta sexta-feira (22) a cruzar a fronteira da Venezuela com o Brasil de forma clandestina apesar do bloqueio imposto por Nicolás Maduro, presidente do país vizinho.
“Estamos morrendo de fome. Tentamos atravessar e não conseguimos pela aduana e viemos por aqui. Vamos comprar comida”, disse Gregório.
Além dele, muitos outros se arriscam a entrar ou sair da Venezuela por caminhos em meio à mata, uma alternativa ao bloqueio na BR-174, onde fica a passagem oficial entre os dois países.
“Havíamos nos planejado quase três meses para viajar para o Brasil e nunca pensamos que isso iria ocorrer nessa data. Fomos pegos de surpresa”, afirmou Wilmer Rodriguez, 40, que fez o mesmo caminho.
No início da manhã desta sexta, não havia fiscalização no lado venezuelano além do bloqueio na BR-174. Mais tarde, no entanto, guardas da Venezuela também passaram a patrulhar o entorno da rodovia, no intuito de barrar as rotas clandestinas. Ainda assim, muitas pessoas burlam a fiscalização e atravessam em ambos os sentidos.
“É mais de 1 km de caminhada até o lado brasileiro para atravessar a fronteira totalmente. Estou vindo em busca de emprego, porque em Santa Elena não há energia nem para ligar equipamentos e sobrevivo de diárias”, disse o brasileiro João Batista, de 58 anos, que há 16 mora em Santa Elena de Uiarén.
Junto com a família, Carlos Muñoz, de 40 anos, também cruzou a fronteira. Ele empurrava um carrinho com o filho mais novo, um bebê de oito meses.
“Já viemos de tão longe e não podemos perder viagem”, contou o venezuelano que relatava apenas querer comprar comida no Brasil. “Se na volta a fronteira ainda estiver fechada, teremos que passar por aqui novamente.”
Na quinta-feira (21), em meio à ameaça de fechamento da fronteira, venezuelanos correram para comprar mantimentos no Brasil. Temendo que a fronteira fique fechada muito tempo, eles adquiriam estoques de comida.
Ao anunciar o bloqueio, Nicolás Maduro disse que ela ficará “fechada total e absolutamente até novo aviso”.
Fronteira fechada
Normalmente, a passagem pela fronteira é fechada à noite e reabre por volta das 7h do dia seguinte (horário local; às 8h de Brasília), o que não aconteceu nesta manhã.
Venezuelanos não podem atravessar a fronteira a pé e nem de carro. No entanto, desde o início da manhã, foi observado vários grupos de venezuelanos usando rotas alternativas no entorno da BR-174, bloqueada pela Venezuela.
Parte desses caminhos ficam muito perto ao posto oficial de controle dos dois países e por volta das 8h30 guardas venezuelanos intensificaram a fiscalização pelo entorno da rodovia no intuito de conter a passagem irregular de pessoas para o país, mas ainda assim pessoas conseguem cruz-
Ajuda humanitária
O presidente venezuelano determinou o fechamento para tentar barrar a ajuda humanitária oferecida pelos EUA e por países vizinhos, incluindo o Brasil, após pedido do autoproclamado presidente interino Juan Guaidó. Maduro vê a oferta dessa ajuda como uma interferência externa na política da Venezuela.
Durante a tarde, após o anúncio do bloqueio, venezuelanos correram para Pacaraima, cidade brasileira na fronteira, para comprar estoques de mantimentos. Um comerciante da região relatou aumento de 30% no movimento em relação a “dias comuns”.
O porta-voz do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Otávio Rêgo Barros, disse que a ajuda humanitária está mantida para o sábado (23). Nesta manhã uma avião da Força Aérea Brasileira chegou a Boa Vista com 22,8 toneladas de leite em pó e 500 kits de primeiros-socorros.