O vinho é, sem dúvida, uma parte muito relevante da história e da cultura georgiana. A Geórgia, que já foi Estado Soviético e, nesse período sofreu com as limitações impostas pela estrutura governamental daquele país, é considerada o berço da produção vinícola mundial, onde acredita-se que essa tradição começou entre  8000 a.C. e 5000 a.C.

“Diz a história que, em algum lugar nas montanhas da Geórgia, há mais de 7 mil anos, um fazendeiro esqueceu um punhado de uvas amassadas dentro de um recipiente e, com o tempo, as frutas fermentaram, exalando um aroma típico que chamava a atenção de quem passava por perto. Alguém não resistiu e resolveu experimentar aquela iguaria e assim surgiu o primeiro vinho do mundo”, conta o sócio diretor da Wine7 e um dos apreciadores da tradição e dos vinhos georgianos, Adriano Mercucci.

O recipiente foi batizado de kvevri – ou qvevri – ânforas quem têm uma camada de cera de abelha na parte interna e são fruto do trabalho artesanal dos próprios produtores georgianos. Usado para fermentar a uva e considerado fundamental para a produção dos vinhos da região, em 2013, teve sua tradição reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.

“Esta metodologia antiga continua sendo usada na Geórgia até os dias de hoje, onde as  uvas, maceradas com pele, sementes e hastes, transformam-se em vinho na ânfora subterrânea que aí fica, selada, por vários meses, com um sabor que remonta ao tempo em que o vinho nasceu”, acrescenta Mercucci.

Durante os anos 80, a Geórgia chegou a produzir mais de 440 mil toneladas de vinho comercial por ano. Quando a Geórgia se tornou um Estado independente, nos anos 90, a produção vinícola do país diminuiu dez vezes. Porém, esse cenário começou a mudar em 2006, quando o presidente russo Vladimir Putin baniu as importações de vinho da Geórgia.

“Diante desse cenário, produtores do país precisaram se voltar para os consumidores ocidentais, onde seu vinho industrial não teria sucesso. A partir disso, a produção no qvevri, natural, praticamente sem adição de aditivos químicos, em pequenos volumes e carregada de valor histórico ganhou uma nova oportunidade de florescer”, observa.

O vinho produzido em qvevri perfaz hoje cerca de apenas 1% do total de exportações do mercado vinícola da Geórgia, mas o interesse do Ocidente pelo vinho natural tem crescido.

 PRINCIPAIS UVAS

Com mais de 500 diferentes variedades de uvas nativas cultivadas e cerca de 40 delas usadas na vinicultura, as principais e mais difundidas para a produção de vinhos da Geórgia são a  Rkatsiteli, uva branca que produz vinhos muito encorpados, a Mtsvane, também branca que produz vinhos minerais de guarda, e a  Saperavi, uva tinta que produz vinhos profundos e persistentes.

“Após a gestão de Mikhail Gorbachev, quando os vinhedos da região foram tranformados em plantações de melão, devido à política anti álcool daquela gestão, o retorno da plantio dessas uvas voltou a trazer à tona a tradição dos vinhos georgianos, que hoje despertam grande interesse de consumidores, não só na Europa, como também em outros continentes”, argumenta

o diretor da Wine7.

CARACTERÍSTICAS

A maior parte do vinho de qvevri da Geórgia hoje é branco. Por ser envelhecido junto com as cascas de uva, o líquido ganha um tom mais alaranjado e possui mais corpo do que um vinho branco típico, com acidez elevada e sabor adstringente. “Apesar disso, também há uma variedade bastante interessante de vinhos tintos e rosé para todos os gostos e harmonizações”, observa Mercucci.