Caso foi registrado em Natividade nesta terça-feira, 23 – Foto – Divulgação
Lucas Eurilio
ALERTA DE GATILHO
A terça-feira, 23, foi marcada por um crime que deixou os moradores de Natividade, região sudeste do Tocantins, literalmente de cabelos em pé, encabulados e enojados. O caso de necrofilia na cidade de pouco mais de 9 mil habitantes – segundo o IBGE – gerou uma grande repercussão e assustou os tocantinenses por conta da frieza do crime.
Tudo foi descoberto na manhã de terça-feira, quando o filho de uma idosa de 71 anos recebeu a ligação da dona de uma funerária. Ela informou que o túmulo da mãe estava aberto e seu corpo do lado de fora, violado mesmo depois de morta.
O filho da idosa preferiu não se identificar, mas confirmou numa entrevista que “depois a dona da funerária disse que tinha um preservativo ao lado do corpo e estavam desconfiando que houve a violação”.
Áudios de uma mulher e vídeos circularam pelas redes sociais, onde ela dizia estar arrepiada e chamou o criminoso de maníaco.
“Esse cara é um maníaco. Tinha era que ter achado ele. A defunta foi estuprada. O caixão tá lá aberto lá e ninguém pode entrar. Isso é horrível. Esse cara é um maníaco mesmo, tem que encontrar esse cara. Na verdade, tinha era que ter uma câmera escondida naquele cemitério. Acontece tanta coisa horrorosa, se instalar uma câmera ali, ia pegar muito vagabundo ali viu. Rapaz, absurdo, eu tô me arrepiando até agora”, indignou-se
A vítima havia sido enterrada por volta das 17h do dia anterior – na segunda-feira, 22- após problemas cardíacos e contrair uma infecção generalizada. A idosa estava internada num hospital particular da Capital e não resistiu.
Além de todo o luto por de perder um ente querido, os familiares precisaram lidar com toda a dor da situação de ver a mãe que mesmo depois de morta, foi tratada sem escrúpulos, como um objeto que pode ser jogado fora depois de ser usado, sem dignidade.
O delegado responsável pelo caso Joadelson Rodrigues Albuquerque informou ao Gazeta do Cerrado que as investigações já estão bem avançadas e que as testemunhas já foram ouvidas.
O autor do crime não foi preso até o momento e caso seja identificado, poderá responder por vilipêndio a cadáver, podendo pegar até três anos de reclusão.
Especialista explica
Nesta quarta-feira, 24, nossa equipe conversou com o psicanalista e professor da UFT, Carlos Mendes Rosa e ele explicou o que é necrofilia e a que essa prática pode estar relacionada.
Vale ressaltar que o objetivo aqui não é minimizar a proporção do grave problema – que é um crime – ocorrido em Natividade e sim levar informação ao leitor sobre o que é essa prática e suas consequências.
Conforme Carlos, a necrofilia é uma perversão sexual. Segundo ele, o termo foi inicialmente usado por Freud para caracterizar qualquer tipo de prática sexual que não tivesse o intuito de reprodução.
“A necrofilia se enquadra no campo das perversões sexuais. O termo “perversão”, mal interpretado em nossa sociedade atual, foi utilizado, inicialmente, por Freud para designar todo tipo de prática sexual que se desvia da meta genital – reprodução – . Convencionou-se chamar aqueles que têm práticas perversas como anormais ou desviantes. A questão é que algo só pode ser considerado desviante quando comparado ao suposto normal. Mas, a necrofilia também nem sempre é caracterizada pela consumação do ato sexual. Muitas vezes a pessoa se satisfaz com o contato com o corpo, às vezes, ou mesmo com uma ‘fantasia’ próximo ao corpo.
Poderíamos perguntar o que é considerado estritamente normal em nosso mundo atual. É importante dizer ainda que a existência dos chamados “monstros” a nossa volta, nos assegura que podemos nos considerar seres normais”, explicou.
O professor também explicou que nossas escolhas são construídas através de relações afetivas ainda quando criança.
“Segundo a psicanálise, as diferentes escolhas de objeto sexual, usualmente, são definidas a partir das relações afetivas estabelecidas pela pessoa na infância. No caso específico da necrofilia, pode estar associada com alguns aspectos específicos, possivelmente traumáticos, que tornam o corpo morto e desvitalizado objeto de desejo por parte desse sujeito”.
Carlos Mendes ressaltou ainda que quando a pessoa escolhe um cadáver como parceiro sexual, o necrófilo sente que pode tudo, já que um corpo não vai oferecer resistência.
“Um dos aspectos que podemos considerar é a baixa estima da pessoa que elege no cadáver um parceiro sexual que não resistirá a qualquer tentativa de possessão e não poderá, na fantasia do sujeito, rejeitá-lo como fariam outras pessoas. Diante do corpo morto o necrófilo pode se sentir onipotente em seus desejos e ações”.
Por fim, o psicanalista disse que “outra possibilidade que podemos aventar seria uma satisfação de ordem sexual com a transgressão: transgressão da lei civil, transgressão do estatuto de sagrado dado ao corpo morto, transgressão da perda do outro para a morte, que a todos aguarda”.