Heitora Beatriz Freire Santos, de 29 anos
Heitora Beatriz Freire Santos, de 29 anos

A jogadora Heitora Beatriz Freire Santos, atleta trans da equipe da AABB Palmas, denunciou ter sido vítima de ofensas transfóbicas durante a partida contra o Alpha de Formoso, pela Copa Matrix 2025 de vôlei, em Gurupi. O caso ocorreu na noite de sábado, 25, e gerou repercussão nacional após o relato de constrangimento e humilhação por parte da vítima.

O acusado de proferir as ofensas é Giovani Fonseca de Miranda, advogado de 65 anos e marido de uma jogadora adversária, que teria feito comentários transfóbicos e deboches públicos sobre o corpo da atleta ao longo de toda a disputa. Testemunhas relataram que a postura continuou mesmo na presença da Polícia Civil, com o homem insistindo em se referir à atleta com pronomes masculinos e sendo advertido diversas vezes. Giovani foi preso em flagrante ao final do jogo por crime de racismo (transfobia), previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/1989.

Em seu depoimento, Heitora ressaltou o impacto do episódio: “Foi muito constrangedor e humilhante ouvir aquelas palavras e saber que todos sabiam que eram para mim. Questionar o corpo de uma mulher cis, trans ou lésbica, é inaceitável”, disse. Ela destacou que cumpre todas as exigências técnicas para atuar no feminino, previstas pelo Comitê Olímpico Internacional, pela Federação Internacional de Vôlei e pela CBV, e que havia outra atleta trans do lado adversário, reforçando o caráter discriminatório da conduta do agressor.

Após a homologação da prisão em flagrante pela Justiça, o suspeito ganhou liberdade provisória com medidas cautelares, como proibição de frequentar eventos esportivos, manter contato com a vítima e dever de comparecimento à Justiça. A Ordem dos Advogados do Brasil no Tocantins informou que acompanha o caso e que ele será encaminhado ao Tribunal de Ética para análise de conduta profissional.

Heitora criticou a organização da Copa Matrix por não ter aplicado sanção ao time adversário e relatou a ausência de retratação pública, nem por parte do agressor, nem do comitê. “A única medida foi o impedimento do retorno do torcedor, já determinado pela Justiça. Não houve nenhuma retratação, nem da equipe, nem da organização”, lamentou.

Já os organizadores do torneio afirmaram que nem eles, nem a arbitragem, presenciaram diretamente as ofensas e que não foram notificados durante o jogo. O coordenador Mateus Silveira afirmou que todas as medidas foram tomadas após o registro da denúncia na súmula, incluindo a orientação para a atleta formalizar o boletim de ocorrência e o banimento do torcedor da competição. Quanto à equipe da esposa do agressor, a Copa Matrix pontuou que penalidades se aplicam apenas a atletas, técnicos ou dirigentes, e pretende reforçar protocolos de combate à discriminação em edições futuras do torneio.

Depois do episódio, Heitora decidiu retornar para Minas Gerais, sua terra natal, onde buscará apoio familiar. “Não é a primeira vez que enfrento situações assim, mas prometi a mim mesma que não vou mais silenciar”, afirmou, agradecendo o apoio recebido. O caso reacende o debate sobre transfobia e inclusão no esporte, cobrando das entidades esportivas respostas mais firmes e efetivas para proteger atletas trans e garantir respeito nos ambientes esportivos.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins