MPTO investiga denúncias de irregularidades em escola indígena da Ilha do Bananal

O Ministério Público do Tocantins (MPTO) instaurou, nesta segunda-feira, 25, um Inquérito Civil para apurar supostas irregularidades na gestão administrativa e financeira da Escola Indígena Watakuri, localizada na Aldeia Boa Esperança, do povo Javaé, em Formoso do Araguaia, região da Ilha do Bananal.

A investigação foi motivada por denúncias recebidas em abril deste ano, que relatam situações que podem configurar atos de improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e violação aos princípios da administração pública.

Denúncias graves

Entre as irregularidades apontadas estão:

  • interrupção no fornecimento de merenda escolar, prejudicando a alimentação e o aprendizado dos alunos;
  • pagamento de salários a servidores infrequentes, os chamados “funcionários fantasmas”, com possível conivência da direção da unidade;
  • transferência irregular de recursos a familiares da direção escolar;
  • pagamentos indevidos de diárias ao tesoureiro da associação de apoio da escola;
  • nomeação de coordenador pedagógico sem a qualificação exigida;
  • denúncias de assédio moral contra professores, submetidos a constrangimentos e humilhações pela gestão da unidade.

O documento publicado no Diário Oficial do MP também menciona a possível omissão da Superintendência Regional de Educação de Gurupi, que não teria tomado providências diante das denúncias apresentadas anteriormente.

A denúncia detalha ainda casos específicos de servidores que não cumprem a jornada de trabalho, mas continuam recebendo salário normalmente. Entre eles:

  • auxiliar de vigilância, que não comparece à escola alegando ausência de aluna com deficiência, deixando de participar de eventos escolares e sábados letivos;
  • auxiliar de alunos com deficiência, ausente com frequência;
  • auxiliar administrativo, que teria viajado em horário de expediente e cumpre apenas parte da carga horária;
  • merendeiras e professores com presenças irregulares, comprometendo o andamento das aulas.

Segundo o MPTO, as faltas não são descontadas em folha de pagamento, evidenciando falhas graves de fiscalização por parte da direção escolar.

Para dar sequência às investigações, o Ministério Público enviou ofícios à Secretaria de Estado da Educação (Seduc) e à Superintendência Regional de Gurupi, requisitando uma série de documentos e informações no prazo de 20 dias, incluindo:

  • folhas de frequência e ponto dos servidores desde janeiro de 2023;
  • processos administrativos disciplinares já instaurados;
  • prestações de contas da Associação de Apoio Escolar referentes a 2023 e 2024;
  • extratos bancários das contas da escola e da associação;
  • documentos sobre concessão de diárias;
  • esclarecimentos sobre medidas adotadas em denúncias anteriores.

De acordo com o MPTO, o objetivo do inquérito é proteger o patrimônio público, garantir a probidade administrativa e assegurar o direito à educação de qualidade da comunidade indígena atendida pela Escola Watakuri.

O que diz a Seduc

Em nota, a Secretaria da Educação informou que ainda não foi oficialmente notificada sobre o inquérito, mas que já iniciou levantamentos internos a partir das informações divulgadas pela imprensa.

A pasta ressaltou que não compactua com irregularidades administrativas, financeiras ou pedagógicas e que, caso sejam confirmadas falhas na gestão da unidade, os responsáveis serão submetidos a processos de responsabilização.

“A Seduc reforça que não compactua com qualquer tipo de irregularidade em suas unidades de ensino. Eventuais condutas incompatíveis com a legislação e com os princípios da gestão pública serão devidamente investigadas e, se confirmadas, encaminhadas para responsabilização”, diz o comunicado.

A secretaria também reafirmou o compromisso com a transparência, lisura dos processos e oferta de educação de qualidade a todos os estudantes da rede estadual.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins