Mergulhadores retomaram nesta segunda-feira a operação de resgate dos integrantes do grupo que continuam presos em um complexo de cavernas na Tailândia.
Há relatos ainda não confirmados de que uma pessoa teria sido levada em uma maca para uma ambulância. Não se sabe ainda se essa seria o quinto integrante do grupo resgatado da caverna.
Quatro dos meninos foram retirados no domingo e encaminhados a um hospital local – segundo autoridades, eles estavam “em boas condições de saúde”. Restam agora, enquanto o quinto resgate não é oficialmente confirmado, oito garotos, além do técnico do time de futebol ao qual pertencem.
Noventa mergulhadores estão envolvidos na operação de resgate – 40 tailandeses e 50 estrangeiros. A missão havia sido pausada durante a noite para os tanques de ar serem substituídos. Ela é considerada de alto risco, e foi antecipada devido ao perigo de as águas voltarem a subir com chuvas que voltaram a atingir a área.
Fontes que acompanham a operação informaram que os mergulhadores voltaram a entrar na caverna entre as 10h e as 11h, no horário local (entre meia noite e 1h da manhã no horário de Brasília). A equipe foi reforçada em relação ao domingo e a previsão é que o trabalho nesta segunda dure até às 21h (por volta das 10h em Brasília).
Segundo o correspondente da BBC News, o resgate de segunda-feira foi concluído em apenas seis horas, tempo inferior ao das missões de domingo, de 11 horas no total para ida e volta das equipes com os adolescentes.
O grupo está preso na caverna desde o dia 23 de junho, depois que fortes chuvas inundaram a caverna e bloquearam a saída do local. Os 12 meninos e o técnico foram encontrados por mergulhadores na semana passada. Eles estavam famintos, mas sem ferimentos graves.
A jornalista da BBC em Sidney Frances Mao disse que a Austrália enviou uma equipe de especialistas e de mergulhadores da polícia para auxiliar a operação.
Não se sabe ao certo os critérios usados para a escolha dos garotos que saíram primeiro. Um dos especialistas em mergulho em cavernas, o médico anestesista Richard Harris recomendou que os que estivessem em pior condição de saúde fossem retirados primeiro, mas não foi oficialmente divulgado se essa sugestão foi acatada.
Inicialmente, a possibilidade que vinha-se cogitando era a de resgatar primeiro os mais fortes do grupo, para dar tempo de os mais fracos se recuperarem dentro da própria caverna antes da operação.
Também não há informações sobre a identidade dos quatro meninos resgatados até agora.
Operação
Segundo informações divulgadas pelo chefe da missão de resgate, as identidades dos que saíram foram mantidas em sigilo em respeito às famílias cujos filhos permanecem presos no local e porque os resgatados ainda não haviam se reunido com as próprias famílias.
Ele acrescentou que o contato físico com os entes queridos seria evitado até que um risco de infecção tivesse passado, embora possa ser permitido que eles se vejam através à distância ou por meio de uma proteção de vidro.
Equipes de resgate aproveitaram uma pausa na chuva no domingo para iniciar a missão mais cedo que o previsto.
No sábado, Narongsak Osottanakorn, governador da província de Chiang Rai, onde está localizado o complexo de cavernas, disse que as equipes tinham uma janela de três a quatro dias para realizar a operação.
Quem são os garotos e o treinador presos na caverna?
– Os garotos fazem parte do time de futebol Wild Boars e têm entre 11 e 17 anos. Acredita-se que eles foram para a caverna no dia 23 de junho, após um treino, para comemorar o aniversário de um dos colegas. Teriam levado apenas alimentos básicos e acabaram presos por causa da inundação. Quatro integrantes do grupo foram resgatados no domingo, mas as identidades deles não foram reveladas:
- Chanin Vibulrungruang, 11 (Apelido: Titan) – começou a jogar futebol aos 7 anos de idade;
- Panumas Sangdee, 13 (Apelido: Mig), escreveu aos pais: “A Navy Seals (a força de operações especiais da Marinha) está cuidando bem de mim”;
- Duganpet Promtep, 13 (Apelido: Dom) – capitão do time de futebol. Estaria sendo sondado por vários clubes profissionais da Tailândia;
- Somepong Jaiwong, 13 (Apelido: Pong) – sonha em jogar na seleção tailandesa;
- Mongkol Booneiam, 13 (Apelido: Mark) – descrito pelo professor como “um bom garoto e muito respeitoso”;
- Nattawut Takamrong, 14 (Apelido: Tern) – disse aos pais que não se preocupem com ele;
- Ekarat Wongsukchan, 14 (Apelido: Bew) – prometeu à mãe que a ajudaria uma vez que fosse resgatado;
- Adul Sam-on, 14 – membro de uma equipe de vôlei classificada em segundo lugar em um torneio no norte da Tailândia;
- Prajak Sutham, 15 (Apelido: Note) – descrito por amigos da família como um “rapaz inteligente e tranquilo”;
- Pipat Pho, 15 (Apelido: Nick) – pediu aos pais, na carta, que o levem para comer churrasco quando for resgatado;
- Pornchai Kamluang, 16 (Apelido: Tee) – disse aos pais: “não se preocupem, eu estou muito feliz”;
- Peerapat Sompiangjai, 17 (Apelido: Night) – completava ano no dia em que o grupo entrou na caverna para comemorar e os pais dizem que o esperam agora para fazer sua festa de aniversário;
- Treinador assistente Ekapol Chantawong (apelido: Ake), de 25 anos – em carta aos pais dos garotos, pediu desculpas pelo ocorrido, mas eles responderam que não o culpavam.
Por que o resgate foi antecipado?
Inicialmente, autoridades locais e especialistas pensaram em manter o grupo dentro da caverna até o fim do período de monções na região – chegou-se a cogitar que eles teriam de esperar até quatro meses pelo resgate no local.
Mas estação mais chuvosa no país está apenas começando e há possibilidade de a enchente que os deixou presos na caverna piorar nos próximos dias.
Os socorristas vêm tentando escoar água para fora do local e, segundo o líder da operação, o nível de água lá dentro é o mais baixo registrado até agora.
“Não há outro dia além de hoje (domingo) para estarmos mais preparados. Se não (começarmos), perderemos a oportunidade”, afirmou ele no domingo.
Como estão sendo retirdos da caverna?
A viagem de ida e volta até o local onde o grupo está é exaustiva até mesmo para mergulhadores experientes – dura cerca de 11 horas no total, seis para a ida e cinco para a volta.
A retirada deles pode durar entre dois e três dias, segundo as autoridades.
Para sair do local, eles precisam andar nas rochas, caminhar na água, escalar e mergulhar – tudo na completa escuridão – com o auxílio de cordas colocadas ao longo de todo o percurso para guiá-los.
Segundo o governo tailandês, que divulgou o plano do resgate, os garotos foram divididos em quatro grupos e serão transportados um a um. O treinador estará no último grupo.
Usando máscaras de mergulho de rosto inteiro, que são melhores para iniciantes, cada garoto é acompanhado por dois mergulhadores, que também carregam seu tanque de oxigênio.
Há quatro pontos no caminho em que eles podem parar para descansar e receber atendimento médico.
Segundo o governo, a vantagem do plano é que ele pode ser executado rapidamente e sem a necessidade de muitos recursos.
No entanto, ele requer muita habilidade dos mergulhadores. Os garotos têm que saber o básico sobre mergulhar, além de manterem-se tranquilos e não entrarem em pânico. Esta é uma das razões pelas quais eles foram separados.
O pior trecho fica mais ou menos na metade do caminho de volta – um local chamado de “Bifurcação em T”, que é tão estreito que não é possível levar os tanques de oxigênio nas costas.
Nesse momento, os mergulhadores devem tirar os tanques de suas costas, colocá-los no chão e rolá-los devagar, enquanto guiam os garotos pelo canal.
Algum tempo depois, eles chegam então na Câmara 3, a caverna que é usada como base avançada para os mergulhadores. Lá, descansam, são examinados novamente e caminham até a saída, de onde devem ser levados diretamente para um hospital local.
Um mergulhador experiente da Marinha, Saman Gunan, morreu dentro da caverna durante a viagem de volta, em uma indicação do quão difícil é a missão. Ele tinha ido levar tanques de oxigênio ao grupo.
Ele perdeu a consciência e não pôde ser reanimado. Seus colegas disseram que “não permitiriam que o sacrifício dele fosse em vão”.
Como começou o resgate?
Na última semana, uma enorme operação de voluntários e da mídia se formou no local onde fica a entrada da caverna.
Mas nas primeiras horas do domingo, os jornalistas foram realocados para um ponto mais afastado e aumentou o número de policiais na entrada, aumentando a especulação de que o resgate começaria.
Em seguida, o líder da operação, Narongsak Osottanakorn, confirmou que 13 mergulhadores haviam entrado na caverna para começar a trazer de volta os 12 meninos e seu técnico, de 25 anos.
Além deles, outros socorristas estão na caverna a postos, incluindo mergulhadores de Tailândia, Estados Unidos, Austrália, China e Europa.
“Esse é o dia D. Os garotos estão prontos para enfrentar esse desafio”, afirmou no domingo.
Narongsak disse ainda que todos os garotos foram examinados por um médico e estão “saudáveis fisicamente e mentalmente… Eles estão determinados e focados”.
Tanto o grupo quanto seus familiares concordaram que eles deveriam ser removidos do local assim que possível.
Havia um forte clima de expectativa no acampamento onde se reúnem voluntários de todo o país e internacionais, familiares e jornalistas, segundo a repórter da BBC Helier Cheung.
Horas depois do início, ambulâncias foram vistas deixando a área da entrada da caverna em direção ao hospital de Chiang Rai, e as autoridades começaram a confirmar o resgate dos meninos.
Esta reportagem será atualizada em breve.
Por BBC Brasil