A Polícia Federal encontrou um recibo que aponta que Brito Miranda pagou por uma denúncia contra o ex-governador Sandoval Cardoso. O fato teria acontecido em setembro de 2014, dias depois de um avião ser apreendido em Piracanjuba (GO) com material de campanha e dinheiro ligados ao também ex-governador Marcelo Miranda. Para o Ministério Público Federal (MPF) o objetivo seria amenizar o escândalo da apreensão pouco antes das eleições daquele ano, em que os dois políticos concorriam o governo do estado. Foi essa aeronave que acabou levando à cassação de Marcelo Miranda em 2018.

O recibo manuscrito foi apreendido durante a Operação Reis do Gado, na casa de Brito Miranda ainda em setembro de 2015. Na época, Marcelo Miranda já era governador. Só que a informação só veio à tona nesta semana após a PF deflagrar a operação 12º Trabalho.

Prisões

Na última quinta-feira, 26, Marcelo Miranda, o pai dele, Brito Miranda, e o irmão, José Edmar Brito Miranda, foram presos. Apenas Brito Miranda, que tem 85 anos, teve uma fiança arbitrada, Brito pagou 200 salários mínimos, e ganhou liberdade.

Operação

A operação 12º Trabalho, que levou à prisão do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) em Brasília (DF), foi resultado de um trabalho conjunto entre o Ministério Público Federal e a Receita Federal. A ação busca cumprir 11 mandados de busca e apreensão, além das três prisões preventivas. Os prejuízos estimados são de mais de R$ 300 milhões.

A operação 12º trabalho apresentou diversos detalhes das investigações contra a família, como um suposto presente dado ao ex-presidente do Tribunal de Justiça, dossiês feitos contra policiais e até suposto envolvimento da família com assassinatos e atos de tortura.

No recibo apreendido pela PF um empresário declara ter recebido R$ 220 mil até a data de 08.09.2015. Atesta também que receberia mais R$ 480 mil entre 08.09.2015 e 15.06.2016. O nome de quem teria feito o pagamento está rabiscado, mas os agentes de inteligência da PF acreditam se tratar de “Dr. Brito”.

A Procuradoria da República sustenta que o empresário recebeu esta quantia, cerca de R$ 700 mil, para denunciar Sandoval Cardoso em um esquema de notas frias na Assembleia Legislativa, quando ocupou o cargo de presidente. Ele teria feito pagamentos por serviços não realizados.

Segundo os procuradores, a denúncia sobre as supostas notas frias de Sandoval é grave e precisa ser investigadas. Só que a possibilidade de Brito Miranda comprar o depoimento do empresário, por um valor maior do que o próprio dinheiro encontrado no avião, revela a facilidade da Família Miranda em usar elevadas quantias em dinheiro escondidas ou em contas de laranjas para amparar os interesses da família.

A decisão que autorizou as prisões também cita que a Polícia Federal apreendeu em um cofre, na casa de Marcelo Miranda, um relatório confidencial e documentos sobre a vida pessoal de agentes da Polícia Civil que foram designados para acompanhar a apreensão do avião em Goiás. Inclusive informações sobre parentes destes policiais.

Para ter esses dossiês, segundo o MPF, está claro que Marcelo Miranda usou agentes de sua confiança. Isso demonstraria novamente a influência da família e uso do que se chama de contrainteligência para possíveis intimidações ou chantagens.

Outro lado

Marcelo Miranda continua preso no Comando Geral da Polícia Militar em Palmas e o irmão dele Brito Miranda Júnior está na Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPP).

Sobre a denúncia do pagamento dos R$ 700 mil, a defesa da família Miranda diz que é difícil se posicionar sobre todos os fatos, principalmente os antigos, que já foram investigados e onde não se apontou qualquer participação do Brito Miranda. Disse ainda que desconhece a acusação.

O ex-governador Sandoval Cardoso que disse que “a verdade está vindo a tona e que está a disposição da Justiça.”

*Com informações do G1 TO