
Ao se falar em Covid-19 temos que ter uma margem de flexibilidade nas análises, pois os dados podem variar em questão de horas, dias, semanas, conforme ocorrem novas atualizações de dados. Atos e ações da população e/ou do poder público podem ter reflexos positivos ou negativos sobre o tema.
O isolamento social e distanciamento social são, até o momento, o que mais se entende que pode diminuir a expansão dos casos de Covid-19. Porém, nos últimos dias, nisso o Tocantins tem deixado a desejar. No dia 15/08/2020, sábado, segundo reportagem publicada neste jornal na segunda-feira, foi indicado que o Tocantins era o penúltimo colocado no ranking dos estados em isolamento social, sendo o 26º do total de 27 unidades da federação. Já no dia 16/08/2020, Domingo, a situação melhorou, passando para 21º colocado, mas ainda assim, mantendo-se na parte mais inferior da tabela, com diferença insignificante em relação aos que se mantinham nas posições abaixo.
A mesma dinâmica de altos e baixos, ou sendo literal, de “baixas e altas”, ocorre com a ocupação das vagas hospitalares reservadas para pacientes de Covid-19 pelo estado do Tocantins. Pessoas “baixando” ou tendo “alta” hospitalar devido à Covid-19 é uma constante. Pela indicação do Integra Saúde Tocantins, no dia 18 de agosto de 2020, as 06:05:56 horas, as vagas de UTI de Araguaína estavam com 100% de ocupação, enquanto no Hospital Geral da Palmas com 85%. Em relação às vagas de Leito Clínico de Covid-19, o Hospital Geral de Palmas estava com ocupação de 85% e o Hospital Regional de Porto Nacional com 83%.
Essa situação esteve diferente, em alguns momentos, conforme foi relatado pela Secretária da Saúde de Porto Nacional, em reunião do Comitê de Operações de Emergência de Saúde Pública (COE), no dia 13 de agosto de 2020. Nesta data cidadãos de Porto Nacional precisavam de internação devido ao Covid-19, mas foram informados que não havia vagas disponíveis no Hospital Regional de Porto Nacional e nem no Hospital Geral de Palmas. Até o fim da reunião não foi apresentado uma resolução para o problema, que posteriormente foi solucionado. Nesses momentos percebe-se claramente a difícil tarefa dos secretários de saúde e das equipes de saúde envolvidos na questão (muito obrigado a todos, pela dedicação!).
Conforme dados da Vigilância Epidemiológica de Porto Nacional, a utilização do serviço hospitalar, por pacientes de Porto Nacional, ocorre tanto na rede pública como privada. Tem-se a predominância da utilização da rede pública, com alguns picos de maior utilização da rede privada. A rede hospitalar privada é um suporte importante nesse momento, mas a rede pública segue sendo o principal acesso das pessoas ao atendimento de Covid-19 (viva o SUS!). O gráfico abaixo apresenta a utilização da rede hospitalar pelos pacientes de Covid-19 residentes em Porto Nacional, tendo como destaque as redes hospitalares pública e privada.
DivulgaçãoO Hospital Regional de Porto Nacional tem 17 leitos clínicos para atendimento à Covid-19 e não tem leitos de UTI. Esse hospital atende a Região de Saúde Amor Perfeito, que, além de Porto Nacional, abrange mais 12 municípios: Natividade, Chapada da Natividade, Santa Rosa, Ipueiras, Brejinho de Nazaré, Fátima, Oliveira de Fátima, Silvanópolis, Pindorama, Mateiros, Ponte Alta do Tocantins e Monte do Carmo.
Conforme o gráfico acima, percebe-se que os pacientes de Porto Nacional têm ocupado a maioria dos leitos disponíveis para pacientes de Covid-19 no Hospital Regional de Porto Nacional. Isso é entendível, pois é o município com maior população e mais caso de Covid-19 na região de saúde. Mas tem um ponto que indica preocupação para um futuro próximo, o aumento dos casos de Covid-19 nos pequenos municípios que são atendidos pelo Hospital Regional de Porto Nacional.
Outra informação apresentada na reunião do COE de Porto Nacional, já mencionada anteriormente, foi que no dia 12 de agosto de 2020, eram sete os pacientes hospitalizados no Hospital Regional de Porto Nacional que não eram residentes desse município. Provavelmente está ocorrendo o aumento do número de pacientes no Hospital Regional de Porto Nacional oriundos de municípios com menor número populacional. Agora fica clara a função regional do Hospital Regional de Porto Nacional, que até então atendia, em sua grande maioria, casos de Covid-19 de residentes no município sede.
Analisando-se o crescimento dos casos de Covid-19 nos municípios que formam a região de abrangência do Hospital Regional de Porto Nacional, desconsiderando o município sede, passa-se a entender o aumento do número de ocupação de leitos por pessoas não residentes em Porto Nacional.
Nesses municípios tem ocorrido um crescimento contínuo de novos casos de Covid-19, porém, em proporção a seu quantitativo populacional. Foram confirmados casos em todos os municípios, sendo uns com mais casos, outros com menos, uns com registros de casos a mais tempo, outros muito recente. Mas no quantitativo, que é nossa referência de análise, o aumento tem sido considerável, impactando a ocupação dos leitos do Hospital Regional de Porto Nacional.
O mês de Julho é um divisor de águas para o crescimento de casos de Covid-19 na Região de Saúde Amor Perfeito, aumentando consideravelmente o número de casos. Não considerando Porto Nacional, no mês de julho, o número de casos confirmados cresceu 240%, passando de 68 para 231 casos, aumentando 163 casos. Só nos primeiros 13 dias do mês de agosto aumentaram mais 120 casos nesses municípios. O gráfico abaixo apresenta esse crescimento, ligando o alerta do provável aumento de pessoas que precisarão utilizar leitos do Hospital Regional de Porto Nacional, mas que não moram nesse município.

A espacialização do Covid-19 e seus efeitos está sendo silenciosa, mas contínua, com potencial de deixar muitas sequelas na sociedade. Nos preparamos para um ataque em grandes proporções, o que foi evitado, mas estamos perdendo o confronto nas pequenas batalhas diárias. Essa não percepção clara da espacialização da Covid-19 e seus efeitos tem feito com que não tomamos determinados cuidados e só vamos sentir os efeitos quando alguém mais próximo a nós é acometido pela doença. Também, o planejamento da oferta de leitos hospitalares deve ser considerado levando em conta essas novas realidades que vem se apresentando. Voltando à ideia do inicio do texto, a flexibilidade e alteração dos dados é uma constante em relação a essa doença chamada Covid-19, agora não mais tão desconhecida, porém que nos surpreende a cada momento.
Prof. Dr. Atamis Antonio Foschiera – UFT/Porto Nacional – Curso de Geografia
Jair Souza da Silva – Geógrafo pela UFT/Porto Nacional e Mestrando pela UFCat
Conteúdo Especial Gazeta do Cerrado
Foto: Nielcem Fernandes