Maju Cotrim
Maju Cotrim

Um novo espaço de diálogo e participação foi inaugurado nesta quarta-feira, 22, em Palmas. Idealizado pela jornalista Maju Cotrim, editora-chefe da Gazeta do Cerrado, o projeto Roda do Cerrado nasceu com a proposta de promover encontros mensais entre diferentes segmentos da sociedade para debater questões sociais, ambientais e econômicas do Tocantins. A primeira edição teve como tema “REDD+ em Debate”, abrindo espaço para discussões sobre os rumos das políticas de sustentabilidade e mudanças climáticas no Estado.

O evento, realizado no auditório do Girassol Plaza Hotel, contou com a presença de gestores públicos, representantes de comunidades tradicionais, ambientalistas, produtores rurais e pesquisadores. A ideia, segundo Maju, é “fazer da comunicação um instrumento de aproximação e aprendizado”, garantindo que as pautas ambientais, muitas vezes restritas a círculos técnicos, cheguem à população de forma acessível e democrática.

Representantes de comunidades indígenas, ambientalistas e outros movimentos e setores participaram da Roda do Cerrado

“O Tocantins fala muito de política, mas pouco de sociedade e meio ambiente. A Roda é um convite para ampliar essa conversa, trocar ideias e ouvir quem vive essas realidades. A proposta é construir uma narrativa participativa e entender os desafios pela ótica das comunidades, das instituições e do próprio governo”, pontuou a jornalista.

A temática do REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) dominou o debate. O programa, que integra as políticas estaduais de economia verde e compensação ambiental, foi alvo de críticas relacionadas à transparência e participação social em sua implementação.

A superintendente de Gestão e Políticas Públicas Ambientais da Semarh, Marli Santos, destacou que o trabalho do Tocantins no REDD+ começou a ser estruturado ainda em 2008. Ela deu explicações contundentes de todo o processo do programa, retirou dúvidas e defendeu o trabalho das escutas realizadas.

Paulo Rogério Gonçalves, da APA-TO

Durante o encontro da Roda do Cerrado, o Paulo Rogério Gonçalves, da APA-TO (Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins), apresentou uma fala contundente apontando falta de transparência na implementação do Programa Jurisdicional de REDD+ do Tocantins, destacando as dificuldades enfrentadas pela sociedade civil para ter acesso a informações básicas sobre o projeto.

Segundo ele, embora o REDD+ venha sendo construído no Estado desde 2008, com base em legislações e diretrizes internacionais, as organizações sociais só conseguiram acesso real aos documentos do programa em 2025, após denunciarem a situação ao Ministério Público Federal (MPF). “Tentamos obter os arquivos para realizar uma análise técnica e transparente, mas foi praticamente impossível até que o MPF intervisse. Só depois da denúncia conseguimos 50 documentos completos, o que deveria ter acontecido desde 2023”, afirmou.

Paulo alegou que a falta de acesso antecipado a dados comprometeu a qualidade dos estudos sobre o programa e atrasou a discussão pública do tema. Segundo ele, o governo do Estado falhou em garantir a “consulta livre, prévia e informada” das comunidades, princípio assegurado na Convenção 169 da OIT, especialmente em projetos que envolvem o uso de recursos naturais e territoriais.

A representante da Comunidade Lagoa Azul e dos quilombos do Jalapão, Evileide Vieira, trouxe o olhar das populações tradicionais sobre o processo. Para ela, muito além de documentos e reuniões formalizadas, é preciso garantir a compreensão popular sobre o que está sendo discutido.

“Nas oficinas, os técnicos literalmente desenhavam para a gente o que era o REDD+, suas fases e objetivos. Nem todo mundo entende a linguagem burocrática ou jurídica. Mas quando o governo fala de desenvolvimento sustentável, ele precisa explicar isso de forma que o povo compreenda o que significa na prática”, relatou.

Evileide reforçou a necessidade de continuidade dos debates. “Esses espaços são importantes porque permitem que as comunidades opinem sobre temas que afetam diretamente o território, a cultura e o modo de vida tradicional”, afirmou.

Maju Cotrim e Fernando Silveira

Representando produtores rurais do Jalapão, o ambientalista Fernando Silveira foi incisivo ao criticar o modelo adotado na implementação do REDD+. “O programa está às escuras. Eu precisei assinar um termo de confidencialidade para ter acesso a um contrato público. Isso contraria o princípio da transparência e nos faz questionar a real natureza do programa. Ele não parece ambientalista, mas sim dinheirista.”, afirmou.

Encerrando o primeiro encontro, Maju Cotrim explicou que a Roda do Cerrado surge como uma reação à carência de espaços permanentes de diálogo e à necessidade de “reaproximar o jornalismo das pessoas e das causas coletivas”.

“O papel da imprensa não é apenas relatar o que dizem governo ou instituições, mas criar oportunidades de escuta e articulação. Queremos entender o que está sendo questionado e abrir espaço para que as vozes locais participem do debate público, sem filtros”, declarou.

A jornalista reforçou que o projeto será itinerante e mensal, abordando também temas como inclusão social, economia do Cerrado, gestão de recursos hídricos e políticas climáticas.

Com cerca de duas horas de duração, o primeiro encontro terminou com um sentimento comum entre os participantes: a necessidade de manter a conversa permanente sobre o futuro sustentável do Tocantins, num formato acessível, plural e apartidário.

“A Roda do Cerrado é um símbolo da força do diálogo e do papel que a sociedade civil pode e deve ter nas discussões sobre o território e o meio ambiente”, resumiu Maju Cotrim.

Equipe da Gazeta do Cerrado