Psicóloga Daniele Sita – Foto: Divulgação

Todos sabem que as questões relacionadas à sexualidade, na cultura ocidental, por muito tempo foi motivo de vergonha e silêncio. A sociedade, com sua postura repressora contribuiu decisivamente para o atraso da Educação Sexual de crianças.

Aqui no Brasil, a Educação Sexual entrou em pauta como uma necessidade no começo dos anos 30, quando alguns educadores e médicos, preocupados com as questões de saúde da mulher passaram a levantar essa bandeira. A educação sexual dessa época tinha como objetivo reprimir mulheres, para que não apresentassem atitudes imorais e garantissem a reprodução apenas dentro de um contexto familiar.

Quase 100 anos depois muita coisa mudou, mas não da forma como deveria. Ao mesmo tempo em que vemos grupos engajados na educação sexual de crianças e adolescentes, também encontramos grupos na sociedade que ainda são contra essas iniciativas.

É preciso muita coragem para decidir pelo trabalho de Educação Sexual nas escolas. Episódios no cotidiano envolvendo o tema são muito comuns, mas os educadores têm duas opções: estarem disponíveis para promover o debate e a reflexão sobre o assunto ou se omitir usando subterfúgios como “a educação sexual deve feita nas famílias”.

Desde 1997 a Educação Sexual também é função da escola e está alocada no ensino como um “Tema Transversal”. Educar sexualmente uma criança consiste em oferecer condições para que elas conheçam seu corpo sem vergonha, bloqueios e tabus. Esse tipo de conhecimento também serve para que elas saibam o que é permitido e o que não é, quem pode tocar e quem não pode, quais toques são agradáveis/permitidos e quais são invasivos e desconfortáveis.

A educação sexual está a serviço da prevenção do abuso infantil, quando ensinada de forma adequada e respeitando as fases do desenvolvimento de cada criança, promove atitudes positivas, livres de medo, culpa e preconceitos.

Esse trabalho deve ser prioritariamente desenvolvido pelas instituições educacionais por um motivo muito importante: a maioria dos abusos sexuais infantis acontece dentro de casa, por pessoas próximas da criança, dessa forma, a escola se configura como um ambiente mais acolhedor e seguro para falar do tema. Além de contribuir para um desenvolvimento das crianças baseado no autocuidado, a educação sexual no âmbito escolar também constrói indivíduos com consciência de seus corpos.

Dentro do âmbito familiar manter um diálogo aberto, sem demonstrar preconceitos e tabus também pode ser importante. Quanto mais a família se coloca à disposição para ouvir, mais ganha a confiança da criança e essa se sente à vontade para falar quando algo incomoda.

A educação sexual pode ser trabalhada com as crianças por meio de livros, vídeos, jogos e também por meio do diálogo. É comum que depois dos 3 anos a criança passe a ter dúvidas e faça perguntas como “de onde vem os bebês” ou qual o nome dos órgãos genitais. O ideal é que a resposta seja dada de acordo com o desenvolvimento da criança, mas sem contar histórias fantasiosas. Para crianças pequenas “o bebê vem da barriga da mamãe” pode servir.

Quanto mais aberto ao diálogo pais e responsáveis estiverem, mais as crianças confiarão nessas pessoas para contar quando algo estiver errado.

Psicóloga Daniele Sita

Mestre e especialista em desenvolvimento infantil. Atualmente é professora e trabalha com atendimento infantil.

Instagram: @psi.danielesita

Psicóloga Daniele Sita – Foto: Arquivo Pessoal