A aprovação do fim do casamento homoafetivo na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família, da Câmara dos Deputados causou revolta em vários seguimentos da sociedade, não apenas da Comunidade LGBTQIAPN+.

O texto agora segue para discussão em outras comissões, como a dos Direitos Humanos, vice-presidida pela Deputada Federal Érika Hilton, eleita a segunda melhor deputada do Brasil em 2023.

Nesta quarta-feira, 11, um representante da Aliança Nacional LGBT no Tocantins, Igreja Anglicana Episcopal no Brasil através da Câmara de Bispos, Diocese Anglicana Amazônica, repudiaram a aprovação do Projeto de Lei.

A nota é assinada por Marinez Rosa dos Santos Bassotto, Bispa Primaz e da Diocese Anglicana da Amazônia.

Em um trecho da nota, a igreja diz que a liberdade orientação sexual e a igualdade dos cidadãos na Lei constituem os pilares da nossa sociedade. (Leia na íntegra no final da matéria). 

“A liberdade de orientação sexual e a igualdade perante a lei constituem pilares fundamentais da nossa sociedade democrática e não devem ser negadas a ninguém”.

Vale ressaltar que a discussão na Câmara é inconstitucional, já que se tratam de Direitos Civis e não religiosos. Além disso,  a união estável entre pessoas homoafetivas já é possível após uma decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda em 2011.

Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a resolução e passou a obrigar a celebração da união em cartórios perante o Estado.

Do Tocantins, os deputados federais e pastores Eli Borges e Filipe Martins votaram a favor do fim do casamento homoafetivo.

Leia sobre o assunto – Com voto de dois tocantinenses, Comissão da Câmara dos Deputados aprova projeto que proíbe casamento homoafetivo | Gazeta do Cerrado

OAB Nacional e outras instituições

A Aliança Nacional LGBTI+ e a Deputada Federal Erika Hilton (PSOL/SP) acionaram o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil sobre o PL 5167/2009 que visa proibir o casamento homoafetivo no Brasil.

A resposta da OAB Nacional foi um parecer no sentido de que é inconstitucional a proposta de proibir o casamento homoafetivo no Brasil.

O parecer da OAB foi redigido pela Comissão Nacional da Diversidade Sexual e de Gênero e subscrito pela Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB.

25 comissões estaduais da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB assinaram em conjunto o parecer.

O Diretor-Presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, afirma que “a OAB sempre foi uma defensora dos direitos humanos da população LGBTI+, fico feliz com essa resposta contra a tentativa de retrocessos”.

Também já se pronunciaram contra a proposta de proibição do casamento civil homoafetivo:

– Ministério Público Federal – Procuradoria Geral dos Direitos do Cidadão

– Defensoria Pública-Geral da União

– Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

– Associação dos Notários e Registradores do Brasil – Anoreg-BR

– Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – Anamatra

– Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

– Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+

Os posicionamentos dessas instituições estão disponíveis clicando aqui 

Veja nota na íntegra

Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), 19ª Província da Comunhão Anglicana, deseja expressar seu firme repúdio a qualquer tentativa de retrocesso no que tange aos direitos conquistados pelas pessoas LGBTQIA+, em especial, ao projeto de lei (PL) em curso na Câmara dos Deputados que busca revogar o direito ao casamento igualitário. Reiteramos a verdade de que o Brasil é uma nação laica, onde todas as religiões e opiniões devem coexistir pacificamente em igualdade de direitos. A liberdade de orientação sexual e a igualdade perante a lei constituem pilares fundamentais da nossa sociedade democrática e não devem ser negadas a ninguém.

Atualmente, observamos a atuação de uma Comissão da Câmara de Deputados Federais que se propõe a apresentar um Projeto de Lei (PL), de autoria do Deputado Federal Pastor Eurico, do PL-PE, opondo-se aos direitos reconhecidos das pessoas LGBTQIA+. Tais direitos foram ratificados por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011, quando equiparou as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões resultantes entre homens e mulheres, reconhecendo, assim, a união das pessoas LGBTQIA+ como um núcleo familiar.

A IEAB, representada por seu Bispo Primaz em exercício naquele ano, emitiu uma Nota Pública intitulada “Comprometidos com a Dignidade Humana”, na qual acolheu a decisão do STF como um progresso em nossa sociedade, rumo à superação de todas as formas de preconceito e à promoção de um conceito mais profundo de igualdade e cidadania em uma sociedade marcada por sua diversidade, mas também por profundas desigualdades e discriminações. Destacamos que nosso reconhecimento encontra respaldo em nossa tradição de defesa da separação entre a igreja e o estado, bem como entre as religiões e o estado. Isso não implica a sujeição de um domínio ao outro, mas, sim, a necessária harmonização da autonomia institucional e legal com a liberdade de expressão e o pluralismo.

É importante ressaltar que a IEAB, após anos de estudos teológicos e bíblicos e em constante diálogo com suas bases, composta pelo clero e pelo povo, aprovou, em seu Sínodo Geral de 2018, um cânone que autoriza o casamento religioso de (seus fiéis), pessoas LGBTQIA+. Tal decisão foi fundamentada em estudos teológicos e bíblicos que confirmam a orientação sexual como um dom divino e afirma que nossas dioceses e paróquias devem ser ambientes seguros para uma vivência plena da fé, onde todos os sacramentos são acessíveis, independentemente da orientação sexual das pessoas membros da IEAB. Compreendemos que nossa decisão de acolhimento se diferencia das posturas de outras igrejas cristãs no Brasil, mas registramos o papel profético e evangélico de acolher todas as pessoas espiritualmente.

Desde a Constituição de 1891, o Estado Brasileiro é oficialmente laico, abdicando de qualquer confessionalidade religiosa para se tornar um Estado onde todos os cidadãos, independentemente de suas crenças ou ausência delas, possa contar com leis que garantam proteção, especialmente para os grupos minoritários e socialmente vulneráveis. É válido lembrar que, até 2011, muitas famílias LGBTQIA+ eram desprotegidas pelas leis do país. Além disso, ainda enfrentamos altos índices de violência física e verbal contra a população LGBTQIA+. A apelação por uma suposta ideia de “Estado Cristão”, dentro de nossa cultura, por meio deste PL, contradiz a noção de Estado Laico. Trata-se de uma proposta que amplia o preconceito e dissemina o pânico e violência em nossa sociedade.

Importante frisar que as decisões do STF dizem respeito aos direitos civis das pessoas LGBTQIA+ em ter suas uniões reconhecidas pelo Estado, não tendo qualquer relação com a obrigação das Igrejas de realizar tais uniões sob pena de lei. Desde 2011, não há registros de que tal obrigação tenha sido imposta às Igrejas, assim como acontece com a Lei do Divórcio, que não obriga nenhuma Igreja a celebrar cerimônias religiosas para pessoas divorciadas.

Nossa Igreja reitera seu compromisso de ser inclusiva, acolhendo todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual. Seguimos o exemplo de Jesusque acolhia as pessoas marginalizadas e amava todas as pessoas sem restrições. Continuaremos a trabalhar pela promoção da justiça e igualdade em nossa sociedade, lembrando que todos nós somos filhos e filhas do mesmo Deus, criados à Sua imagem e semelhança.

Que o amor e a compaixão de Cristo nos inspirem a sermos agentes de mudança em nossa sociedade, lutando pela plena dignidade e igualdade de todas as pessoas, e rejeitando qualquer forma de discriminação ou preconceito.

Unidos em oração, clamamos:

Deus compassivo, que criaste a humanidade à Tua própria imagem, concede-nos a graça de lutar sem temor contra o mal e jamais nos conformarmos com a opressão. Rogamos-Te que nos conceda a coragem de lutar em prol das minorias étnicas, religiosas, de gênero e orientação sexual, para que toda criatura na face desta terra tenha direito à vida plena que Jesus Cristo proclamou. Este é o nosso pedido, em nome de Jesus Cristo, em quem não há homem nem Mulher, mas pessoas, à imagem e semelhança de Deus. Amém!” (LOC/IEAB pág. 533/534).

 

Marinez Rosa dos Santos Bassotto,
Bispa Primaz e da Diocese Anglicana da Amazônia

Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasília
Francisco Assis da Silva, Diocese Sul-Ocidental
Humberto Maiztegui Gonçalves, Diocese Meridional
João Câncio Peixoto, Diocese Anglicana do Recife
Eduardo Coelho Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Meriglei Simim, Diocese Anglicana de Pelotas
Francisco Cézar F. Alves, Diocese Anglicana de São Paulo
Magda Cristina Guedes Pereira, Diocese Anglicana do Paraná

Clovis Erly Rodrigues, Emérito
Almir dos Santos, Emérito
Celso Franco, Emérito
Jubal Pereira Neves, Emérito
Filadelfo de Oliveira Neto, Emérito
Saulo Maurício de Barros, Emérito
Renato da Cruz Raatz, Emérito
Naudal Alves Gomes, Emérito