Do verde brotou o capim-dourado na noite estrelada do Jalapão, o espetáculo era celebrado por gerações de quilombolas em uma comemoração em sua homenagem, na Comunidade Mumbuca, nesse sábado, 16, quando crianças, adolescentes e adultos desfilavam histórias de resistência e esperança na Festa da Colheita. Nas cadeiras de honra, se emocionava a equipe da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot), em mais um dia de programação.

Vibrando ao assistir primas, colegas e irmã, sendo aplaudidas no desfile com peças de artesanatos de capim-dourado, o jovem Ronivaldo Rugas, 20, se posicionou de frente pra passarela fazendo coro aos gritos e aplausos da plateia. Ele disse que a Festa é muito bonita, uma oportunidade de aprender mais sobre o capim-dourado.

A artesã Zulmira da Silva, antes nos bastidores, no desfile, esteve ao centro com uma mandala de capim-dourado apoiada nos braços. “É o maior orgulho que tenho, porque é uma tradição da cultura. Essa festa é a nossa história, esperamos o ano todo. São lembranças que nunca acabam. Sinto que não podemos deixar a cultura morrer”.


A Festa é organizada pela Associação da Comunidade Mumbuca há mais de 10 anos. “É uma felicidade muito grande, porque é uma festa especial que meche com a nossa memória, cultura, história. Tenho orgulho de saber que a comunidade Mumbuca se tornou uma comunidade potente, de referência, revelada ao mundo através da dona Miúda, que levou o capim pro mundo inteiro e nos trouxe identidade e orgulho”, considera a presidente da Associação, Railane Ribeiro da Silva.

A reverência à dona Miúda é expressada também por uma de suas filhas, conhecida na comunidade como dona Chica. “Recordo muito da minha mãe. Sinto saudade, emoção, lembro dela. Quando era tempo da colheita, ela ficava toda feliz. Ela falou ‘olha, quando eu morrer, vocês não deixem o bastão cair, vocês prossigam’ e nós estamos prosseguindo com a ordem dela, isso tudo aqui é por causa dela. Ela era muito amorosa, falava ‘se não tá bom pra minha comunidade, não tá bom pra mim’”, relembra dona Chica, artesã como a mãe, tendo repassado a sabedoria do artesanato para filhas, netas e marido.

“A Festa do Capim-dourado representa que a resistência, beleza, cultura dos povos tradicionais, do povo e das comunidades quilombolas do estado do Tocantins chegou ao governo do Estado. Fizemos questão de estar aqui todos os dias acompanhando de perto e prestigiando esse evento que simboliza as raízes do nosso estado”, disse a secretária dos Povos Originários e Tradicionais, Narubia Werreria.

O significado de resistência é compartilhado pela mãe da Miss Tocantins Turismo Baby 2023 Alice Gabriely Fernandes Araújo, 3 anos, quilombola de São Félix do Tocantins, que desfilou com seu vestido dourado pelo capim. “É um orgulho muito grande. Representa luta e resistência por espaço de valorização”, expressou Bruna Fernandes.

O desfile de encerramento contou com o apoio da secretaria de Estado da Cultura na Coleção Ouro do Cerrado, assinada pelo estilista Luiz Fernando Carvalho, composta por cinco modelos costurados com a ajuda das artesãs da comunidade Mumbuca.

A viola de buriti também foi estrela do evento, na passarela do desfile e no palco do show de encerramento do dia, quando suas cordas cantavam a cultura e memória da comunidade quilombola Mumbuca. Durante o dia, a programação contou com cavalgada, jogos de futebol e oficinas.

A realização da Festa da Colheita contou com apoio de vários parceiros, entre eles o Governo do Tocantins, por meio das secretarias do Turismo e da Cultura.

Fotos: Rafaela Mazzola/