Equipe Gazeta do Cerrado

Prestes a completar um mês da morte de uma das maiores líderes quilombolas do Tocantins, Dona Juscelina, a comunidade busca nos ensinamentos da matriarca força para se reerguer. A Gazeta do Cerrado foi até comunidade durante esta semana e conversou com moradores notando que o clima ainda é de luto.

Coube ao senhor Manoel Filho Borges, que é vice-presidente da Associação Quilombola Dona Juscelina, ocupar o cargo que era de Juscelina. Em entrevista à Gazeta, ele afirmou que a missão da comunidade é fazer com que Juscelina jamais seja esquecida. “Para quem conviveu muito próximo dela sente mais, se torna mais difícil ainda a missão que coube a gente dar continuidade a todo o legado que ela construiu e que tinha plano de continuar construindo este legado. Para mim, Dona Juscelina era imortal, nunca na minha cabeça mesmo com todas as dificuldades, a gente sempre via ela com mais um bocado de anos para frente. Quando ela partiu nos deixou totalmente desnorteado, mas ela vai continuar. Ela é imortal, porque nós vamos fazer com que a memória dela jamais desapareça desta comunidade. É um missão de todos nós. Não é uma missão minha, mas de toda a comunidade”, disse.

A jovem estudante e ativista Ludmila Carvalho é uma das que vão levar o legado de Dona Juscelina, ela estuda Direito e escolheu o curso justamente para batalhar pelos assuntos da comunidade. Para ela, o legado de Juscelina também é imortal.

 

Museu

A Prefeitura de Muricilândia a Associação de Moradores já articula e organiza para que a casa de Dona Juscelina vire um museu religioso onde as pessoas poderão visitar tanto seu altar, quando a casa onde ela viveu e passou seus mais de 90 anos.

“Estamos colhendo assinaturas, já fizemos assembleias para discutir isso. Estou indo nas casas colhendo, porque nossa intenção é essa. A comunidade está indo junto ao Poder Público solicitando que faça daquela casa, que desaproprie, indenize, e faça daquele local de visitação e de memória”, explicou Manoel.

 

Dona Juscelina

Dona Juscelina, nascida em 24/10/1930, na cidade de Nova Iorque no Maranhão, é neta de uma cativa. Benzedeira, devota e romeira de Padre Cícero, do Divino Espírito Santo, também é lavradora, parteira, quebradeira de coco e griô, presidindo o Conselho de Griots da Comunidade desde a fundação. Ser griô é ter a missão de repassar os saberes e história para os mais jovens e, assim, propiciar também os conhecimentos dos ancestrais, além de ensinar como é a organização da comunidade e sua historicidade.

Ela também é portadora do Título de Cidadã Muricilandense, título concedido pela Câmara Municipal de Muricilândia, no ano de 2012, pelos relevantes serviços prestados à Cidade de Muricilândia na construção de uma comunidade negra quilombola, resgatando e incentivando a cultura e os direitos desta comunidade.

No ano de 2016, como reconhecimento por sua importância na luta em defesa dos direitos da comunidade quilombola, recebeu o Prêmio Boas Práticas em Direitos Humanos – Categoria VIII – Igualdade Racial, concedido pela Secretaria de Cidadania e Justiça – Seciju do Estado do Tocantins.