
A Polícia Civil investiga se uma clínica de estética era usada para lavar dinheiro em um esquema que pode ter desviado R$ 11 milhões de duas construtoras no Tocantins. Quatro pessoas foram presas suspeitas de envolvimento, e a polícia apreendeu carros de luxo avaliados em R$ 1 milhão, durante o cumprimento de mandados.
As prisões preventivas aconteceram durante a operação Perfídia, na segunda-feira (26). Três suspeitos foram presos em cumprimento de mandados de prisão, e o quarto investigado se apresentou na delegacia.
De acordo com a investigação da Polícia Civil, a mulher presa era chefe do setor financeiro de duas construtoras que movimentam altos valores. Outro investigado atuava no setor de compras das empresas. O esposo da mulher é servidor público e o quarto suspeito atuava como técnico de enfermagem no Hospital Geral de Palmas (HGP).
A defesa do casal informou, em nota, que os clientes estão colaborando com as autoridades competentes. A defesa de um dos presos disse que teve acesso parcial aos autos da investigação e, por isso, qualquer manifestação, neste momento, seria prematura. A defesa do quarto investigado não se posicionou até a publicação desta reportagem (veja notas na íntegra no fim da reportagem).
A investigação aponta que o grupo abriu uma empresa de venda de combustíveis, que eram ofertados para as duas construtoras. Segundo a polícia, eles conseguiam fazer os desvios não só por meio da compra de combustíveis, mas também de materiais e equipamentos adquiridos pelas empresas.
A TV Anhanguera teve acesso a uma decisão judicial sobre o caso. O documento cita que o responsável pelas compras das construtoras enviava notas fiscais para que a mulher realizasse os pagamentos. Mas, os materiais eram encaminhados para o setor Jardim Taquari, onde ele estava construindo dois prédios, sendo um de três e outro de dois pavimentos. O furto desses materiais causou prejuízo de R$ 132 mil.
A polícia cumpriu mandados de busca e apreensão nesses prédios, e apreendeu carros de luxo avaliados em R$ 1 milhão.
Como o esquema foi descoberto
O suposto esquema foi descoberto depois que um engenheiro das construtoras percebeu, em abril deste ano, que as obras realizadas pelas construtoras tiveram um aumento injustificado nos gastos, principalmente relacionados à compra de combustíveis. Ele passou a conferir as notas fiscais e identificou que os valores estavam sendo pagos para uma empresa investigada, possivelmente criada como fachada para a fraude, segundo a investigação.
A suspeita da polícia é de que os desvios possam chegar a R$ 11 milhões. “Esses valores eram subtraídos em três modalidades, primeiro na compra de combustíveis que não eram entregues, segundo, na locação de máquinas; e, terceiro, na aquisição de materiais de construção, que não eram levados para onde deveriam”, explicou o delegado Wanderson Queiroz, responsável pela investigação.
A decisão também destacou que o salário da mulher presa é de R$ 5 mil e do marido dela, também investigado, é de R$ 10 mil. Valores que não justificam o patrimônio adquirido pelo casal.
Lavagem de dinheiro em carros e prédios
De acordo com a Justiça, há fortes indícios de que os quatro investigados usaram materiais e o dinheiro desviado para comprar carros, construir um prédio e abrir uma clínica estética. Isso seria para dissimular os bens obtidos com o desvio, havendo indícios de que teriam repassado veículos entre eles e transferido entre si a propriedade de automóveis, segundo a decisão.
O juiz Márcio da Cunha destacou na decisão que a conduta dos investigados “não se trata de um crime patrimonial simples, mas de uma estrutura montada com uso de empresa de fachada, falsificação de documento particular e branqueamento de capitais”.
Também afirmou que a “atuação deles, conforme apurado, revela um modus operandi sofisticado, com divisão de tarefas e uso de artifícios fraudulentos para a prática dos delitos, o que denota uma possível existência de organização criminosa, e exige uma resposta firme e imediata do estado”.
Íntegra da defesa do casal preso
A defesa informa que seus clientes estão colaborando de forma plena e voluntária com as autoridades competentes. Ressaltamos que o processo encontra-se em segredo de justiça, sendo é importa destacar que o presente feito está em fase de investigação, etapa em que não se pode presumir culpa ou formular conclusões definitivas, sendo imprescindível a observância rigorosa dos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e presunção de inocência, sendo prematuro qualquer juízo de valor acerca dos fatos.
A defesa confia plenamente no trabalho técnico do poder judiciário e do ministério público, e acredita que, ao final, a verdade será devidamente esclarecida.
As partes envolvidas permanecem à inteira disposição da justiça para todos os atos que se fizerem necessários ao esclarecimento dos fatos, reafirmando seu respeito às instituições e ao devido processo legal.
Hisley Morais da silva – advogada
Íntegra da defesa de investigado
A defesa informa que teve acesso apenas parcial aos autos da investigação, razão pela qual qualquer manifestação neste momento seria prematura. Reforçamos nosso compromisso com a verdade dos fatos e com o direito à ampla defesa, e nos reservamos a nos manifestar oportunamente, no momento adequado e com base na íntegra dos elementos constantes no processo.
Fonte: g1 Tocantins