No último dia da Marcha organizadoras estimaram em torno de 5 mil mulheres na  caminhada na Esplanada dos Ministérios – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil    

Retornaram para seus territórios nessa quinta-feira (14), a delegação do Tocantins na III Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorreu em Brasília (DF). Foram três dias de intensas atividades, que incluíram além da agenda geral do evento, uma pauta própria, com debates em audiência pública, encontro com parlamentares, oficinas e rodas de conversa, além da celebração do encontro, da sororidade e das atividades culturais.

Foi a primeira vez que o Estado do Tocantins levou uma delegação de mulheres indígenas da base para discutir e expor as necessidades enfrentadas dentro de seus territórios. Participaram mulheres das etnias Javaé, Krahô, Krahô-Kanela, Apinajé, Xerente e Karajá, e levaram também as vozes das Pankararu, Avá-Canoeiro e Xambioá, que não puderam comparecer.

Organizadas coletivamente, promoveram forte ação política por mudanças.  “Foram dias de grandes esforços e experiências, e esperamos ver concretizadas as políticas públicas que fomos buscar para nós mulheres e para as nossas comunidades”, disse Elizabeth Xerente, do Coletivo de Mulheres no Instituto Indígena do Tocantins, e coordenadora da delegação tocantinense na Marcha.

Além da força política da presença, as mulheres mostraram que não aceitam o silêncio imposto e marcharem rumo ao Congresso, lideradas pela doutorando em Antropologia Social, Letícia Jôkàhkwyj Krahô. Nos gabinetes dos três senadores, distribuíram um Caderno de Emendas Parlamentares dos Povos Indígenas do Estado do Tocantins, com reivindicações para o orçamento federal do ano de 2024.

Entrega de proposta à senadora Professora Dorinha marcou a relevância da presença das mulheres na Marcha – Foto: Cidiane Carvalho

A ideia era que a discussão ocorresse em audiência na tenda da delegação, porém nenhum parlamentar do Tocantins compareceu, à exceção da deputada federal Érika Kokay, pelo Distrito Federal.

Por outro lado, tiveram um resultado positivo com a senadora Professora Dorinha, que as recebeu pessoalmente e se comprometeu em estudar as demandas apontadas no documento. “Todas as propostas serão estudadas com muito carinho. E iremos construir um caminho, juntas, para buscar atender as reivindicações”, disse a senadora, em post nas suas redes sociais no dia do encontro, na quarta-feira (13).

Cadernos de propostas

Oficina de salvaguardas foi um das atividades realizadas na Tenda das Mulheres do Tocantins – Foto: Rodrigo Tarquínio/Indtins

Os cadernos de emendas serão entregues nos gabinetes dos deputados federais, por meio do Instituto Regenerativo Tempo de Plantar e do Coletivo de Apoio aos Povos Indígenas do Distrito Federal. “Foi muito positiva a participação das mulheres, com a construção de sua tenda aqui no DF, onde realizaram uma audiência pública e que mesmo sem a presença dos parlamentares promoveu a elaboração do caderno de emendas com as sugestões de políticas públicas”, disse o represente de ambas as entidades, Paulo César Araújo, Porten Krahô (nome de batismo recebido da mesma etnia).

Saldo

“A presença das tocantinenses trouxe visibilidade para o Estado e para o segmento das mulheres indígenas que ainda é invisível e precisa de fortalecimento. Estamos retornando com muita satisfação por termos visto as mulheres colocarem em pauta suas demandas, bem como por terem fortalecido a resistência contra projetos que afetam a toda a comunidade indígena, como o Marco Temporal”, declarou o presidente do Instituto Indígena do Tocantins, Paulo Ixati Karajá que acompanhou a Marcha em Brasília.

O indtins foi o principal responsável pela mobilização que promoveu a participação das mulheres indígenas do Tocantins no evento, em parceria com várias organizações que atuam pela causa indígena no Estado e no Distrito Federal.

Apelo por direitos iguais

Caminhada pela esplanada – Foto – Chico Bahia

De acordo com as organizadoras, o evento reuniu em torno de seis mil mulheres de todos os biomas brasileiros. No centro da Marcha esteve o apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas, que “enfrentam inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas”, diz texto oficial da organização do evento, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).

A entidade destaca também que as mulheres exigem acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas; que lutam pela proteção da terra e recursos naturais, e defendem o fim da violência contra as mulheres indígenas, “um problema generalizado que tem atormentado nossas comunidades há gerações”, continua o conteúdo na plataforma.

Apoio

A participação das mulheres do Tocantins no evento contou com o apoio do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais; da Fundação Amazônia Sustentável; do Instituto Puro Cerrado; da Fundação Nacional dos Povos Indígenas; do Coletivo do Distrito Federal de Apoio aos Povos Indígenas do Tocantins; do Instituto Regenerativo Tempo de Plantar (DF); da Feira Ponta Norte (DF); do Sindicato dos Professores do Distrito Federal; da Embrapa Cerrado; do Ministério do Desenvolvimento Agrário; do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Rede Impãtuw.

(Colaborou Paulo César Araújo, Porten Krahô)

Fonte – Ascom Inditins