Tocantins

Disputa na UFT: Tocantins pode eleger a primeira reitora negra fora da Bahia

Com trajetória marcada por superação e compromisso com a justiça social, a professora Maria Santana pode protagonizar um marco histórico para o Brasil e o ensino superior público

Maria Santana e Marcelo Leineker — candidatos à Reitoria e Vice-Reitoria da UFT
Maria Santana e Marcelo Leineker — candidatos à Reitoria e Vice-Reitoria da UFT

A professora Maria Santana Ferreira dos Santos Milhomem pode protagonizar um feito inédito no ensino superior brasileiro. Se eleita na consulta à comunidade acadêmica marcada para esta quarta-feira, 28 de maio, ela se tornará a primeira mulher negra a assumir a reitoria da Universidade Federal do Tocantins (UFT) por meio de voto direto de professores, estudantes e técnicos-administrativos — e a primeira a conquistar o cargo dessa forma fora da Bahia, estado com a maior proporção de população negra do país, segundo o IBGE.

Até hoje, apenas quatro mulheres negras alcançaram essa posição no Brasil, todas em instituições localizadas ou ligadas diretamente à Bahia: Ivete Sacramento (Universidade do Estado da Bahia – UNEB), Nilma Lino Gomes (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB), Joana Guimarães (Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB) e Georgina Gonçalves (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB). A eventual eleição de Maria Santana representaria não apenas um avanço institucional, mas também uma ruptura simbólica com as barreiras raciais e de gênero ainda presentes na estrutura acadêmica nacional.

Do sertão à universidade: uma trajetória de superação

Nascida na zona rural de Dianópolis (TO), Maria Santana cresceu entre os afazeres domésticos e o sonho da educação. Ainda criança, ensinava os colegas na escola da comunidade e, com esforço próprio, venceu obstáculos financeiros até concluir a graduação, realizar mestrado com pesquisa sobre mulheres indígenas da etnia Xerente e tornar-se professora concursada da UFT.

Antes de se candidatar à reitoria, Maria Santana ocupou o cargo de Pró-Reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da UFT, onde liderou iniciativas voltadas à inclusão social e ao fortalecimento de políticas públicas. Entre os projetos de destaque sob sua coordenação estão a Rede de Cidadania e Direitos Humanos e a Incubadora Social, ambos direcionados ao atendimento de populações em situação de vulnerabilidade. Sua atuação reafirma o compromisso com uma universidade pública mais inclusiva, participativa e socialmente responsável.

Consulta com voto direto e proposta inclusiva

Maria Santana concorre ao cargo de reitora pela Chapa 28 – Acolhimento e União, ao lado do professor Marcelo Leineker, candidato a vice-reitor. A votação será por meio de consulta à comunidade acadêmica da UFT — com participação de professores, estudantes e técnico-administrativos — via sistema digital da plataforma Voto On-line, desenvolvida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que assegura segurança, sigilo e ampla acessibilidade.

A proposta da chapa defende uma universidade que escuta, acolhe e inova, com foco na redução das desigualdades, no fortalecimento da extensão universitária e na integração da UFT com as demandas reais da sociedade tocantinense.

Representatividade que transforma

O Tocantins tem 13,2% de sua população autodeclarada preta, segundo o IBGE, sendo o terceiro maior percentual do Brasil, atrás apenas da Bahia e do Rio de Janeiro. Além disso, mais de 80% dos estudantes da UFT vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica — um dado que reforça a urgência de uma gestão voltada à equidade e ao combate às exclusões estruturais no ambiente universitário.

“Existe uma universidade para além da sala de aula”, afirma Maria Santana. “É aquela que alcança a comunidade, que se compromete com os desafios sociais e que transforma realidades com conhecimento, diálogo e humanidade”.

Se eleita, Maria Santana não apenas quebrará um ciclo de invisibilidade histórica, como também abrirá portas para uma nova geração de lideranças negras e periféricas dentro das universidades brasileiras — reafirmando o Tocantins como território de inovação, inclusão e justiça social.

Fonte: Santana Marcelo