Cultura

Projetos de duas cidades tocantinenses são premiados no 37º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

Projetos de duas cidades tocantinenses são premiados no 37º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

 

Ao todo, 18 ações no Brasil foram selecionadas e cada uma receberá a premiação de R$ 30.000,00

 

Eduarda Formiga/Governo do Tocantins

 

Duas iniciativas culturais do Tocantins foram contempladas no 37º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o tema “Visibilidade de Gênero na Economia do Patrimônio”, o prêmio selecionou 18 ações em todo o Brasil, cada uma recebendo R$ 30.000,00. De Mateiros, o projeto vencedor foi “Dona Miúda Memórias – Centro de fortalecimento da identidade e das tradições da comunidade Mumbuca (TO)”, proposto por Railane Ribeiro da Silva. Já de Natividade, a iniciativa selecionada foi “Ninho de Suceiras”, da Associação de Arte Ninho Cultural.

Vencedora na Categoria 1, destinada a pessoas físicas e grupos ou coletivos não formalizados, a iniciativa “Dona Miúda Memórias” promove a salvaguarda do patrimônio cultural da comunidade Mumbuca, localizada na zona rural de Mateiros, na região do Jalapão. Entre as atividades desenvolvidas estão oficinas, eventos culturais, parcerias com a Escola Quilombola e divulgação do artesanato local, como o capim dourado com palha de buriti. A ação é voltada para os 300 moradores da comunidade e para turistas, contribuindo para a transmissão de saberes e valorização da identidade local.

“Fiquei muito feliz com o prêmio e com o reconhecimento, porque a gente vai acabar sendo um ponto de cultura, no lugar que eu fiz a homenagem à Dona Miúda, em homenagem a ela pela sua importância com o artesanato. É uma coisa que eu comecei por amor, porque eu sou fã da história da minha comunidade, fã da minha avó, por deixar tanto legado, e isso vai dar um reconhecimento muito grande pra minha vivência. A expectativa é grande de melhorar ainda mais o meu espaço, onde eu fico com muito amor e carinho”, comemorou a premiada em primeiro lugar, Railane Ribeiro da Silva.

Já o projeto “Ninho de Suceiras”, premiado na Categoria 2, que abrange cooperativas, associações, microempreendedores individuais e microempresas, realiza um trabalho de educação patrimonial sobre a suça, manifestação cultural de origem africana presente em Natividade. A ação destaca o protagonismo de meninas e mulheres negras na preservação dessa tradição, e resultou na produção de um amplo material artístico-pedagógico. Entre os resultados estão um webdocumentário interativo, que reúne vídeos, fotos e textos para contar a história da suça sob a perspectiva feminina, e um livreto distribuído gratuitamente em escolas, universidades e instituições culturais em todo o país. Além disso, foram produzidos dois documentários: “Mãe Ana: histórias e memórias de um grupo de suça”, com depoimentos de mestres da cultura e apresentações do Grupo Mãe Ana; e “Suça é mais que dança, é história”, destacando o Grupo Tia Benvinda, formado por crianças e adolescentes das escolas de Natividade. O projeto também gerou uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade de Brasília (UnB), desenvolvida pela representante da associação, Liu Moreira, que aprofunda o estudo sobre o corpo feminino negro na suça de Natividade.

“Me sinto emocionada em receber esse prêmio, que é a valorização de um projeto que foi feito por três mãos femininas [Mestra Felisberta Pereira da Silva e Professora Verônica]. Eu acredito que é fundamental essa valorização do protagonismo feminino, negro, para a história da cultura do Tocantins. Nós temos mulheres fortes e mulheres que carregam a cultura, transmitindo esse saber, ensinando para o próximo. O título do projeto, Ninho de Suceiras, representa essas mulheres que são verdadeiras mulheres pássaros que acolhem as pessoas em seus ninhos de tradições, ensinam e transmitem essa tradição ao próximo, para que essa tradição não morra e para que ela continue sempre se perpetuando e cada vez numa constante transformação, simbolizando o que tem de mais rico no Tocantins, que é o povo”, disse Liu.

Ao todo, o prêmio recebeu 274 inscrições no Brasil, das quais 244 foram habilitadas para a etapa estadual. Após análise técnica e seleção nacional, 30 finalistas chegaram à fase final, onde foram definidos os vencedores. Os projetos vencedores representam 13 estados, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, cada uma com cinco iniciativas premiadas. Das 18 ações, seis foram propostas por associações; quatro por pessoas físicas; três por grupos ou coletivos não formalizados; dois por microempreendedores individuais; dois por demais empresas e institutos privados e uma por entidade da administração pública federal.