Tocantins

Composto também por desembargadores, Tribunal Especial é quem dará a palavra final sobre impeachment; Entenda

Composto também por desembargadores, Tribunal Especial é quem dará a palavra final sobre impeachment; Entenda

Brener Nunes – Gazeta do Cerrado

A Assembleia Legislativa do Tocantins (AL) compôs na noite dessa terça-feira, 07, a comissão especial que irá analisar o processo de impeachment contra o governador afastado Mauro Carlesse (PSL). O grupo é formado por cinco deputados estaduais, um de cada bloco partidário existente na Casa.

O pós-graduado em Direito Administrativo pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), Jorgam Soares, explicou a Gazeta que o passo a passo do pedido de impeachment formulado em desfavor de Carlesse, por ora, é impossível descrever, pois depende da adequação e reforma do Regime Interno da Assembleia Legislativa.

Agora, que a decisão foi recebida cada líder de bloco partidário indicou um membro para a comissão especial que fará os atos depois são mais cinco membros indicados para o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO). Aí a comissão, ampliada para 10 membros, vira tribunal especial. Os desembargadores serão escolhidos por sorteios.

O presidente do TJ, Helvécio de Brito, vai presidir o tribunal especial e ele será voto minerva se for preciso. Quando a decisão de admissibilidade for tomada pelo tribunal aí é que de fato se abre o impeachment daí afasta o Carlesse.

Desta forma, Jorgam utiliza como parâmetro o passo a passo do pedido de impeachment protocolizado em desfavor do Governador de Santa Catarina, Carlos Moisés:

O advogado esclarece que o primeiro passo é o Protocolo do Pedido de Impeachment por um cidadão, no gozo dos direitos políticos, devidamente assinado e com firma reconhecida, instruído com provas que confirmem o teor da alegação, podendo, ainda, arrolar até cinco testemunhas.

Após a protocolização, o presidente da Assembleia Legislativa recebe o documento e faz um juízo de admissibilidade formal. Essa análise, se refere apenas à conferência dos requisitos descritos no primeiro passo.

“Caso seja recebido o pedido de impeachment pelo presidente da Assembleia Legislativa, ele determina a notificação do Governador, para oferecer resposta à acusação. Este configura o terceiro passo”, diz Jorgam.

Já o quarto, traz a apresentação da resposta à acusação pelo Governador. “A Assembleia Legislativa elege uma comissão composta por nove deputados estaduais, que terão a prerrogativa de elaborar um relatório sobre a denúncia”.

O especialista explica que após apresentação do relatório pela comissão especial, ela o votará e, acaso a aprovação seja pelo prosseguimento do pedido de impeachment, ele será remetido ao Plenário da Assembleia Legislativa para apreciação.

Sendo aprovado pelo Plenário, o Governador é imediatamente afastado do cargo e, em seguida, é constituído um Tribunal Misto, composto por cinco deputados estaduais a serem eleitos por seus pares, um para cada bloco partidário que existe na casa. A função desta comissão será levantar as informações sobre o caso, ouvir testemunhas e também a defesa do governador. Também participarão cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Tocantins, que vão julgar o Governador.

Veja quais são os blocos partidários

  • DEM/MDB
  • PSDB/PTC/PP
  • PSL e SD
  • PSB/PPS/PR/PHS/PROS/PPL
  • PV e PT

Após ser criada, a comissão vai escolher um dos participantes para ser o relator. O parlamentar escolhido para esta função vai elaborar um relatório recomendando as medidas que julgar mais adequadas após ouvir todos os lados e então este relatório será votado pelos demais participantes. Para ser aceito, o documento precisa ter maioria dos votos dentro da comissão.

Se o relatório for no sentido de admitir as denúncias e ele for aprovado na comissão, o caso vai então ao plenário.

Em sendo condenado, ele perde definitivamente o cargo e pode ficar inabilitado para ocupar cargos públicos por 5 anos, dependendo do entendimento da comissão. Desta forma, o governador em exercício Wanderlei Barbosa passaria a ser o titular do cargo.

Regimento desatualizado da AL

Porém, para tudo isso acontecer, a AL precisa atualizar seu regimento interno.

Segundo o advogado, o artigo 79, da Lei Federal nº 1.079/50, estabelece que o Regimento Interno da AL pode ser utilizado subsidiariamente no que se refere ao rito do pedido de impeachment. Porém, o Regimento Interno da Casa, encontra-se incompatível com a Constituição Federal e a Lei Federal n. 1.079/50, ou seja, o impeachment não pode ser aplicado enquanto o Regimento da AL não for revisado para se adequar aos parâmetros estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo o advogado, o artigo 79, da Lei Federal nº 1.079/50, estabelece que o Regimento Interno da AL pode ser utilizado subsidiariamente no que se refere ao rito do pedido de impeachment. Porém, o Regimento Interno da Casa, encontra-se incompatível com a Constituição Federal e a Lei Federal n. 1.079/50, ou seja, o impeachment não pode ser aplicado enquanto o Regimento da AL não for revisado para se adequar aos parâmetros estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Jorgam esclarece que diversos pontos devem ser modificados. “Dentre às principais modificações a serem efetivadas, destacam-se o estabelecimento de votações abertas e formação de um Tribunal Misto, composto por cinco deputados estaduais e cinco desembargadores”, afirma.

Duração do processo de impeachment

Sobre quanto tempo pode durar todo o processo de impeachment, o advogado afirma que é imprevisível, e não há como dimensionar devido a desatualização do Regimento da Assembleia.

Desta forma, o especialista exemplifica com o caso do impeachment do ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel e com o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés.

Ele conta que a tramitação do protocolo do pedido de impeachment ao julgamento final de Witzel, estava prevista para ocorrer em 6 meses. Mas, em decorrência de algumas intercorrências, levaram 10 meses.

No caso do Governador de Santa Catarina, a tramitação entre o protocolo do primeiro pedido de impeachment protocolizado em desfavor dele e o julgamento final do Chefe do Poder Executivo, levou 4 meses.

E se o afastamento for revogado ou o prazo acabar antes da votação?

Apesar de serem sobre o mesmo assunto, os processos no STJ e na Assembleia Legislativa são independentes. Se o próprio STJ ou uma corte superior revogar a medida de afastamento antes do caso ser julgado na AL, Carlesse volta ao cargo normalmente e responde ao processo de impeachment enquanto administra o estado.

O mesmo acontece se o prazo do afastamento, que termina em abril de 2022, vencer sem que a Assembleia tenha feito a votação. Vale lembrar que o STJ também tem o poder de prorrogar o período de afastamento de Carlesse por mais do que os seis meses determinados inicialmente, se julgar necessário.

Se a ordem judicial de afastamento for revogada depois que o impeachment já tiver sido votado em plenário e o afastamento aprovado pelos deputados, então Carlesse seguirá fora do cargo. Nesta situação, a AL poderá fazer nova análise para decidir sobre o retorno ou seguir com o processo, até a votação final.

Afastamento e investigação

Carlesse é considerado suspeito em duas operações da Polícia Federal que ocorreram simultaneamente no dia 20 de outubro. As ações foram chamadas de Éris e Hygea.

Uma delas é para a apuração de um suposto esquema de propinas relacionado ao plano de saúde dos servidores públicos, na época chamado de Plansaúde. A segunda operação investiga suposta interferência do governador em investigações da Polícia Civil que poderiam prejudicar aliados e o próprio governo.

No dia em que as operações foram deflagradas, além do afastamento foram realizadas ainda buscas na casa do governador e em endereços de outras pessoas consideradas suspeitas. Além de Carlesse, vários integrantes da equipe dele também foram afastados judicialmente, incluindo toda a cúpula da Secretaria de Segurança Pública.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins