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Estigma de 'maconheiro preguiçoso' é um mito, aponta estudo

Cannabis - Foto - Divulgação
Cannabis - Foto - Divulgação

Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, publicado na quarta-feira (24), investigou como o consumo de maconha impacta na motivação de adolescentes e adultos para atividades cotidianas.

Cientistas das áreas de neurociência, da psiquiatria e da psicologia afirmaram na pesquisa publicada na revista científica “International Journal of Neuropsychopharmacology” que, historicamente, o uso de cannabis é associado pejorativamente ao estereótipo de “maconheiro preguiçoso”, em inglês, “lazy stoner”.

De acordo com os cientistas, as respostas obtidas em questionários respondidos por fumantes de maconha e um grupo de controle que não fez uso da substância revelaram que não há diferença entre o comportamento de ambos os grupos quando avaliada a apatia ou a anedonia (perda do prazer e do interesse em realizar as atividades cotidianas).

“Há muita preocupação de que o uso de cannabis na adolescência possa levar a resultados piores do que o uso de cannabis na idade adulta. Nosso estudo, um dos primeiros a comparar diretamente adolescentes e adultos que usam cannabis, sugere que os adolescentes não são mais vulneráveis ​​do que os adultos aos efeitos nocivos na motivação, na experiência de prazer ou na resposta do cérebro à recompensa”, dizem Will Lawn, pesquisador e médico do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London.

“Na verdade, parece que a cannabis pode não ter ligação – ou no máximo apenas associações fracas – com esses resultados. No entanto, precisamos de estudos que procurem essas associações por um longo período para confirmar esses achados”, complementa.

ATENÇÃO: Apesar de os dados analisados pelos pesquisadores britânicos consideraram respostas de adolescentes que usam maconha e não encontrarem impacto na motivação e apatia, o consumo da substância nesta faixa etária é desaconselhado por causa dos riscos psiquiátricos associados para um cérebro ainda em formação, conforme relatou Dr. Ana Escobar.

Metodologia

A pesquisa foi realizada com 274 participantes, sendo adultos entre 26 e 29 anos e adolescentes com 16 e 17 anos. Eles preencheram questionários para medir os níveis de anedonia e apatia, além de descrever o quanto eles gostam de estar com entes queridos e a probabilidade de concluir tarefas.

Os resultados sugerem que o uso de cannabis em uma frequência de três a quatro dias por semana não está associado a apatia, colocando em xeque o estigma de “preguiçoso” e desmotivado que recai sobre aqueles que a consomem, de acordo com os pesquisadores. O estudo não considerou outras frequências de uso além das quatro por semana.

“Suposições injustas podem ser estigmatizantes e podem atrapalhar as mensagens sobre redução de danos. Precisamos ser honestos e francos sobre quais são as consequências prejudiciais do uso de drogas”, comenta Martine Skumlien, a pesquisadora líder do estudo.

Em uma futura segunda etapa da pesquisa, a questão a ser investigada é a motivação, que pode (ou não) diminuir sob efeito da substância.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins