COLETIVA: Laurez diz que vai despachar da pasta da saúde, promete decreto a “oito mãos” e afirma: “não vou ficar chorando e reclamando”; Veja as principais alegações!

Brener Nunes e Maju Cotrim

O governador em exercício, Laurez Moreira, disse em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, 3, que vai passar a despachar da secretaria da saúde após voltar de agenda em Brasília nesta terça, 4.

“Estou andando só 33% que o governo anterior andava, a mágica é cortar o desperdício”

“Pode ficar certo que aqui não vou ficar chorando e reclamando”, disse Laurez sobre os problemas econômicos.

“Vamos cortar muitas despesas desnecessárias”, disse.

Laurez disse que o decreto de emergência que a gestão está preparando será feito a “oito mãos” e terá participação dos órgãos de controle.

O governador em exercício do Tocantins, Laurez Moreira (PSD), reuniu a imprensa na tarde desta segunda-feira, 3, no Palácio Araguaia, para apresentar um diagnóstico detalhado da crise financeira e estrutural da saúde pública estadual e anunciar as medidas emergenciais que o governo irá adotar para reequilibrar as contas e garantir a continuidade dos serviços.

A coletiva contou com a presença dos secretários de Estado da Fazenda, Jairo Mariano, do Planejamento e Orçamento, Ronaldo Dimas, da Administração, Marcos Duarte, e da Saúde, Vânio Rodrigues. O encontro teve como tom central o reconhecimento de um quadro de descontrole orçamentário e má gestão herdada, que, segundo os gestores, levou o sistema estadual de saúde a uma situação considerada “insustentável”.

Dívida de R$ 582 milhões e colapso

De acordo com os dados apresentados, o Estado acumula R$ 582 milhões em dívidas apenas na saúde, além de R$ 285 milhões no plano de assistência dos servidores (Servir). O governador Laurez Moreira afirmou que, ao assumir o comando do Executivo, encontrou uma rede “à beira do colapso”.

“O Estado está em uma situação muito ruim, principalmente na saúde. É insustentável. Os fornecedores pararam de receber, os contratos se acumularam e o sistema corre risco de parar. Estamos decretando emergência para reorganizar a gestão e buscar socorro junto ao Governo Federal”, declarou.

Laurez disse ainda que já iniciou articulações em Brasília, com o Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto, para garantir recursos extraordinários que ajudem o Tocantins a honrar compromissos e manter o funcionamento das unidades hospitalares.

“Nossa prioridade número um é organizar a saúde do Tocantins. Não vamos admitir o colapso do sistema nem o sofrimento da população por má gestão de recursos públicos”, completou.

Crescimento explosivo dos custos

O secretário do Planejamento e Orçamento, Ronaldo Dimas, detalhou o cenário técnico da crise. Segundo ele, os custos da saúde cresceram mais de 140% nos últimos cinco anos, enquanto a receita não acompanhou o mesmo ritmo.

“A folha de pessoal subiu mais de 90% e o custeio aumentou quase 150% em cinco anos. Isso consumiu toda a reserva financeira do Estado. Em 2024, a Secretaria da Saúde já começou o ano com um déficit superior a R$ 300 milhões de exercícios anteriores. E, se nada fosse feito, encerraríamos 2025 com um rombo de R$ 652 milhões”, explicou Dimas.

O secretário revelou ainda que a ausência de auditorias internas e controles de gastos agravou o problema, permitindo a contratação e o pagamento de serviços sem verificação técnica.

“Há anos a Saúde não tem um setor de auditoria funcional. As notas fiscais são emitidas e autorizadas sem análise detalhada. Isso gera distorções graves. Só no plano Servir, por exemplo, ao revisar as contas, conseguimos reduzir R$ 10 milhões de um mês para o outro”, destacou.

Entre as medidas imediatas, o governo pretende auditar os 50 maiores contratos da saúde, revisar preços e suspender pagamentos sem conformidade técnica. As empresas só voltarão a receber após a verificação de cada despesa.

Serviços não reconhecidos pelo Ministério da Saúde

Outro ponto levantado por Dimas é a existência de dezenas de serviços e leitos hospitalares que funcionam sem cadastro ou habilitação federal, o que impede o repasse de recursos da União.

“Temos 30 leitos de UTI em hospitais estaduais e 90 na rede privada sem contratualização, além de 11 leitos psiquiátricos no HGP e vários serviços especializados sem habilitação. Tudo isso é custeado apenas com recursos do Estado. Desde 2005, o Lacen recebe R$ 100 mil mensais, valor que nunca foi atualizado, mesmo com expansão de serviços para Araguaína”, afirmou.

De acordo com o secretário, a soma desses serviços não habilitados gera um prejuízo mensal de cerca de 25% dos recursos que poderiam vir do Governo Federal.

Medidas emergenciais e reestruturação administrativa

Entre as principais ações anunciadas na coletiva estão:

  • Decretação de emergência na saúde pública, para garantir rapidez na adoção de medidas administrativas e renegociação de contratos;
  • Criação de uma força-tarefa intersecretarial, envolvendo Planejamento, Fazenda, Administração e Saúde, para auditar e organizar as contas;
  • Implantação de um novo sistema de auditoria e governança na Secretaria da Saúde;
  • Revisão de todos os contratos vigentes, priorizando os serviços essenciais;
  • Renegociação de débitos com fornecedores e hospitais;
  • Busca de socorro financeiro federal para recompor o orçamento e manter a rede funcionando.

“A saúde está doente, mas o governo está no controle”

O secretário da Saúde, Vânio Rodrigues, foi enfático ao reconhecer a gravidade da situação, afirmando que o sistema “está doente”, mas garantiu que não haverá descontinuidade dos serviços.

“A saúde está muito doente, mas o governo está no controle do descontrole. Não vamos permitir que a população fique desassistida. Vamos usar todos os instrumentos jurídicos e administrativos necessários para garantir o atendimento”, disse.

Vânio destacou que a atual gestão herdou dívidas históricas e contratos de até dois anos sem pagamento, o que tornou insustentável a continuidade dos serviços.

“As despesas herdadas ultrapassam R$ 582 milhões. Já pagamos R$ 357 milhões de exercícios anteriores apenas neste ano. Não é uma crise criada em 60 dias, é resultado de anos de descontrole. Nosso desafio agora é restabelecer o equilíbrio e reconstruir a confiança com os servidores e fornecedores”, completou.

Pagamentos começam nesta semana

O secretário da Administração, Marcos Duarte, informou que o governo já iniciou a solicitação das notas fiscais dos prestadores e que o pagamento das faturas referentes ao mês de julho será iniciado ainda nesta semana.

“Estamos em contato com todos os prestadores e garantindo que não haverá suspensão de serviços. A ordem do governador é clara: resolver as pendências, pagar o que for devido e manter o atendimento à população”, afirmou Duarte.

“O Estado precisa se recuperar”

Encerrando a coletiva, Ronaldo Dimas fez uma analogia à situação financeira do Tocantins, comparando-a a uma “recuperação judicial”.

“O Estado está como uma empresa endividada que precisa se reorganizar. Vamos chamar cada credor, reconhecer as dívidas, negociar descontos e montar um plano de pagamento. É uma recuperação do Estado para voltar a ser viável”, disse.

Dimas também alertou que a crise não se limita à saúde, a educação também enfrenta déficit, com necessidade de aporte de mais de R$ 200 milhões até o fim do exercício para cumprir o investimento constitucional mínimo.

Prioridade absoluta: saúde pública

Ao final, o governador Laurez Moreira reafirmou que a saúde será o eixo central de sua gestão interina e que todas as secretarias estarão mobilizadas para garantir a recuperação do sistema.

“O Tocantins vai atravessar essa tempestade com transparência, coragem e união. O Estado é maior que qualquer governo, e o que estamos fazendo hoje é preparar o futuro para que a população volte a ter uma saúde digna”, concluiu.

A previsão é que o decreto de emergência na saúde seja publicado nos próximos dias, acompanhado de um cronograma de ações e de auditoria de contratos, como parte do esforço para evitar o colapso do sistema e restabelecer o equilíbrio fiscal do Estado.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins