Dimas aponta falta de auditoria na saúde e diz que os 50 maiores contratos só receberão após averiguação; Veja medidas anunciadas

Conteúdo Exclusivo Gazeta

Durante a coletiva de imprensa convocada pelo governador em exercício Laurez Moreira (PSD), nesta segunda-feira, 3, no Palácio Araguaia, o secretário do Planejamento e Orçamento do Tocantins, Ronaldo Dimas, apresentou um diagnóstico detalhado da situação da saúde pública no Estado e anunciou medidas emergenciais de controle, auditoria e reorganização administrativa para evitar o colapso do sistema.

Dimas explicou que os problemas enfrentados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) vêm se agravando há anos, com aumento expressivo dos custos e ausência de mecanismos de controle e auditoria interna. “A saúde vive hoje uma ameaça diária de paralisação. Semana passada foram os anestesistas, agora são os hospitais, e isso tem acontecido porque boa parte deles está há seis, sete, até oito meses sem receber”, relatou o secretário.

Segundo Dimas, os custos da saúde cresceram de forma exponencial nos últimos cinco anos: as despesas com pessoal aumentaram mais de 90%, enquanto o custeio geral teve alta de quase 150% no mesmo período. Esse crescimento desordenado, segundo ele, consumiu a reserva financeira que o Estado ainda possuía. “A saúde virou o ano com restos a pagar superiores a R$ 300 milhões. Mesmo com parte disso sendo quitada, ainda restam aproximadamente R$ 113 milhões de exercícios anteriores”, destacou.

Além dos débitos acumulados, as despesas do exercício atual continuaram crescendo, o que fez com que o Estado chegasse a uma dívida total de R$ 652 milhões na saúde, das quais R$ 582 milhões permanecem descobertos, mesmo com previsão orçamentária de R$ 70 milhões adicionais.

Dimas foi enfático ao apontar a ausência de controle interno como uma das causas principais da crise. “A Secretaria da Saúde está sem auditoria funcionando há anos. As notas fiscais são emitidas sem conferência técnica e sem verificação adequada dos serviços prestados. Isso é gravíssimo”, afirmou.

Ele citou como exemplo o caso do plano Servir, onde apenas o início de uma revisão contratual reduziu R$ 10 milhões em um único mês. “Isso mostra o tamanho da desorganização que estamos enfrentando”, completou.

De acordo com o secretário, uma das primeiras medidas do governo será instaurar um sistema de auditoria e conformidade permanente dentro da Secretaria da Saúde, com foco nos 50 maiores contratos da pasta. “Esses contratos só voltarão a receber após auditoria e verificação detalhada. Vamos auditar todas as contas, renegociar dívidas e estabelecer um cronograma de pagamentos com base em comprovação real dos serviços prestados”, explicou.

O secretário também apresentou dados técnicos sobre o custo médio de atendimento hospitalar. Segundo levantamento interno da SES, o custo médio por paciente chega a R$ 26 mil, valor considerado muito superior à média nacional e a hospitais privados da própria região. “Enquanto o Estado paga em média R$ 26 mil por leito, há hospitais particulares no Tocantins, como o Dom Orione em Araguaína, que gastam R$ 11 mil, e outros com custos ainda menores, de cerca de R$ 9.500. Isso mostra que há algo errado na forma como o dinheiro público está sendo aplicado”, apontou Dimas.

Plano emergencial e medidas estruturantes

Entre as medidas anunciadas estão:

•   Publicação de decreto de emergência na saúde, previsto para os próximos dias;
•   Reorganização administrativa e funcional da SES-TO, com implantação de sistemas de governança e controle de compras;
•   Criação de um sistema permanente de auditoria e conformidade, especialmente para contratos de grande valor;
•   Renegociação de dívidas e parcelamento com fornecedores, com prioridade para serviços essenciais;
•   Limitação de novas contratações, que deverão ser justificadas e previamente validadas pela Secretaria da Administração.

Dimas reforçou que o objetivo central das medidas é evitar o colapso total da rede pública e garantir a continuidade do atendimento à população. “O que estamos fazendo é um esforço conjunto para não deixar o sistema parar. Precisamos da colaboração dos servidores, dos prestadores e também dos órgãos de controle, para que as mudanças ocorram com transparência e responsabilidade”, afirmou.

Por fim, o secretário destacou que o governo buscará apoio financeiro da União para reforçar o caixa estadual e garantir o equilíbrio das contas públicas. “Não existe solução fácil. O que estamos propondo é uma mudança de cultura na gestão pública baseada em controle, eficiência e responsabilidade fiscal”, concluiu Dimas.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins Assessor de Imprensa do SENAI Tocantins