Tocantins

Relatório nacional sobre violações de direitos humanos aborda conflito por água na bacia do Rio Formoso no Tocantins

Relatório nacional sobre violações de direitos humanos aborda conflito por água na bacia do Rio Formoso no Tocantins

O Relatório de Casos com Denúncias e Recomendações: Violação de Direitos Humanos no Brasil traça um panorama da situação nacional e apresenta seis casos atuais e emblemáticos no cenário nacional. Entre eles, está o caso de violação de direitos humanos sofrido por populações indígenas e comunidades rurais na região da bacia do rio Formoso devido à expansão da monocultura irrigada.

Segundo o relatório, nos meses de julho e agosto de 2024, foram autorizados 136 bilhões de litros de captação de água na bacia — volume suficiente para abastecer a capital, Palmas, por quase oito anos. E apesar de uma sentença judicial de 2023 estabelecer regras para uso sustentável, essas orientações vêm sendo descumpridas de forma indiscriminada, com alguns produtores do agronegócio extraindo até 2 milhões de m³ a mais do que o permitido nos últimos meses de estiagem de 2024.

“Embora os rios dessa bacia estejam quase secos, o sistema de revezamento de captação de água, utilizado pelos órgãos de gestão do Governo do Tocantins, ainda permite a extração abusiva de água para irrigação nas grandes fazendas da região dos municípios de Lagoa da Confusão e de Cristalândia”, traz a publicação.

O relatório alega omissão em relação à fiscalização. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Formoso também é criticado por desequilíbrio na participação social e conflitos de interesse com os membros que a compõem.

Entre os impactos na região, temos a insegurança hídrica por redução de água potável, a contaminação da água dos rios, do solo e de todas as formas de vida, riscos à saúde e à soberania alimentar e a perda de territórios tradicionais, como o caso dos indígenas Krahô-Takaywrá, expulsos em 1976 para expansão de latifúndios. O discurso de incentivo à produção de commodities desconsidera, constantemente, modos de vida anteriores a essa atividade na região, prejudicando povos indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares que têm o rio como base de sua economia e subsistência.

O Movimento Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH), membro da Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, reforça a necessidade de respostas a essas violações. “O papel do MEDH é levar as demandas de comunidades, que muitas vezes não têm oportunidade de se posicionar contra as injustiças, para conhecimento público, seja denunciando ou entrando com ações judiciais. Nós acompanhamos o caso da Bacia Hidrográfica do Rio Formoso, do uso indiscriminado de água e agrotóxicos, e seguiremos acompanhando até que seja feita justiça social e climática para essas comunidades que sofreram com a violação de direitos”, relata a orientadora do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia, Maria Francisca.

Direitos violados

Segundo o Relatório, são direitos violados no caso da bacia do Rio Formoso o direito à participação e à consulta livre, prévia e informada, o direito à água, o direito à saúde, o direito à alimentação saudável e à segurança alimentar e nutricional, o direito à demarcação e titulação das terras, o direito à cultura, o direito à segurança e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.